Dom Julio Endi Akamine, avisa que a Pastoral da Educação não é proselitista e garante ela pode nascer a partir de qualquer católico que esteja no mundo da educação. Mestre em Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma (1993 a 1995) e doutor na mesma Universidade, é bispo auxiliar de São Paulo e referencial da Pastoral da Educação na Comissão Episcopal para a Educação e Cultura da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, concedeu esta entrevista logo após o encerramento do I Encontro da Pastoral da Educação do Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), em Florianópolis, dia 01 de setembro, do qual foi o assessor.
O senhor comentou em uma intervenção no I Encontro do Pastoral da Educação do Sul, que o trabalho da Pastoral da educação não é proselitista. O que isso significa?
Dom Julio Endi Akamine: Proselitismo é simplesmente uma preocupação de aumento de número de membros da própria comunidade cristã ou igreja. Ele é uma atitude de desrespeito, no sentido de que você tenta a todo custo converter o outro. O trabalho da Pastoral da Educação não tem esta atitude. Visa apresentar as propostas. Nós não ocultamos nossas convicções religiosas, o outro é sempre livre de aceitá-las ou não. A Pastoral da Educação deve sempre respeitar a liberdade de consciência e a liberdade religiosa das pessoas. A atitude do católico no mundo da educação é sempre uma atitude de grande respeito para com a liberdade de consciência e ao mesmo tempo, de grande lealdade na apresentação de si mesmo aos outros. Nós não queremos aparentar o que não somos. Não queremos simplesmente colorir aquilo que é a doutrina cristã somente porque a gente acha que não deve ferir as sensibilidades. Nós queremos, de fato, apresentar com transparência o que nós somos e no que nós cremos. Não impomos isso a ninguém e da mesma forma a gente sempre está sempre aberto a ouvir o que o outro tem a dizer sobre suas próprias convicções de fé. Tentamos entender e apreciar de maneira correta aquilo que nos é apresentado.
Diante da realidade da atual da educação, com a isenção do Estado em matéria de religião e os limites para se chegar às unidades educativas, como organizar a Pastoral da Educação?
Dom Akamine: Há muitas iniciativas e muitas coisas que acontecem no mundo da educação ligadas à evangelização. O que é necessário é a gente dar mais visibilidade, organização e articulação a elas. Começa principalmente nas comunidades paroquiais, há um foco de irradiação quando a paróquia se preocupa também com a sua presença evangelizadora no mundo da educação, que não é só na escola, mas é um lugar importante, é um lugar prioritário. É também presença em todo o mundo da educação. Temos as escolas católicas, que são um lugar importante de Pastoral da Educação. Necessário também que as coordenações diocesanas, tenham previsto o trabalho de Pastoral da Educação. Então, começa com as paróquias, as comunidades eclesiais, as dioceses, mas, inclusive, começa com as pessoas, que estão envolvidas no mundo da educação e se reconhecem como católicos e são discípulos e missionários de Jesus Cristo. Elas também podem começar uma organização de Pastoral da Educação.
O senhor falou em “muitas experiências ligadas a evangelização”. Então, não estamos falando apenas de escolas católicas e de ensino religioso?
Dom Akamine: Inclui o ensino religioso, mas não se limita a ele. A ação evangelizadora da Pastoral da Educação se estende à participação na elaboração de políticas públicas, se interessa também pela valorização dos professores, pela participação na melhoria do sistema de ensino, das estruturas escolares, da formação dos professores. Está presente e pode atuar também na formação de uma consciência crítica para os meios de comunicação social, para que eles desempenhem também um papel mais educativo, não só informativo ou, às vezes, até destrutivo. A Pastoral da Educação pode atuar na cultura popular, na educação informal e também nas específicas. Então, o campo da Pastoral da Educação é todo o campo da educação.
Hoje, existe muito debate bate a cerca do “Estado laico”. Muitos apoiam a ideia de que as religiões não devem se intrometer em questões públicas por esse motivo. Isso não prejudica a ação da Pastoral da Educação?
Dom Akamine: A laicidade é uma conquista e é algo que a Igreja também defende. O Estado e o governo não escolhe, não elege, não toma partido de uma religião, igreja ou crença religiosa. Não impõe nenhuma ao sistema de educação. Agora, a laicidade, não só não assume uma confissão religiosa, como promove o encontro e o diálogo entre as diversas tradições religiosas. Nós vivemos em uma sociedade pluralista e a laicidade inclui essa pluralidade. O problema é o laicismo, que é a exclusão. Na verdade, o laicismo é um tipo de ateísmo se impõe aos outros: “já que o estado é laico, então ele também tem que ser ateu, não pode aceitar nem um tipo de manifestação religiosa, nenhum tipo de símbolo religioso”. O laicismo acaba por chegar à exclusão das pessoas que se confessam religiosas, que manifestam publicamente as suas convicções religiosas. Isso é algo que não corresponde a laicidade do Estado.