Clóvis Boufler aos representantes da Pastoral da Criança da Região Sul: mudança de hábitos acontece de uma geração para outra. (Foto: Marcelo Luiz Zapelini/Agência Sul 4)

“Na saúde não existe conquistas sem esforço”, disse o gestor de relações institucionais da Pastoral da Criança Clóvis Boufleur aos 95 representantes da Pastoral da Criança do PR, RS e de SC, no encontro regional em Florianópolis, 26. O alerta é um chamamento para que as coordenações locais constituam, ou reanimem, os articuladores de saúde.

Eles têm a função de definir com a comunidade qual a negação de direito prioritária e ajudá-la a resolvê-la, atuando junto às unidades de saúde, repartições públicas e nos Conselhos de Saúde, além de cooperar com as estruturas da pastoral.

— Podemos começar com um problema ou dois e ir até o final, pode ser o da dose imediata de antibiótico. Pelo menos metade dos articuladores podem começar com este problema, que é uma negação de direito —, indicou Boufleur.

De acordo com uma pesquisa realizada pela Pastoral da Criança, cerca de 50% dos municípios da Região Sul do Brasil não oferecem este serviço essencial. O tempo até a primeira dose, que só acontece em casa, varia de algumas horas até um dia após o diagnóstico. Esta espera, em caso de pneumonia, oferece risco à vida da criança.

— O atendimento adequado e no tempo certo é um direito. O tempo certo para um antibiótico é imediatamente após a consulta —, explicou o gestor. “Um posto de saúde não possuir Amoxicilina é lamentável”, acrescentou.

A Pastoral da Criança também deve estar atenta a oferta de sulfato ferroso às gestantes e de vacinas, como a BCG, às crianças, cuja distribuição falha por falta de verbas, falta de profissionais capacitados ou erros administrativos.

Atualmente, atuam 900 articuladores no país, a uma meta é chegar a 6 mil. Eles serão capacitados em uma nova série de cursos, conforme as demandas dos estados.

Em SC

A maioria dos municípios em Santa Catarina atendidos pela Pastoral da Criança não possuem articuladores. De acordo com um levantamento das representantes catarinenses no encontro, o déficit de pessoal se deve à falta de capacitação das pessoas disponíveis; falta de tempo livre dos agentes de pastoral, que possuem muitas atividades nas paróquias; idade avançada de articuladores já capacitados; grande distância entre a casa dos voluntários e os locais das reuniões dos Conselhos de Saúde, entre outros motivos.

As catarinenses também indicaram que onde os articuladores atuam a participação nos Conselhos de Saúde é dificultada pela não publicação dos horários de reuniões. Em muitos casos, os presidentes dos conselhos não autorizam a participação dos articuladores.

Saneamento Básico

Boufleur também apresentou um panorama sobre o saneamento básico, tema da Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano. Como gesto concreto, a pastoral solicitou aos seus voluntários que observassem o que precisa melhorar em âmbito local.

— A criança é o elo da Pastoral da Criança com o saneamento. Dentro das nossas formas de agir, oferecemos movimentos possíveis para a sociedade realizar e oferecemos conhecimento sobre as leis para as pessoas cobrarem, e proporem, ao poder público o que é de seu dever. As duas coisas devem andar juntas: se o governo fizer um sistema e o povo não souber usar, não resolve —, explicou.

Em alguns casos, o governo instala a rede de esgoto, mas as pessoas não se ligam a ela para não pagarem pela taxa. “Precisamos unir benefícios do Poder Público com mudanças de hábitos das famílias”, indicou.

O Encontro Regional da Pastoral da Criança iniciou ontem, 25, acontece até quinta-feira. Questões administrativas e financeiras, o novo modelo de acompanhamento nutricional e a preparação para a próxima assembleia nacional estão na pauta, entre outros assuntos.