Dom Angélico Sandalo Bernardino, sempre sorrindo e cumprimentando quem quer que passe por ele no Santuário Nacional de Aparecida, onde participa da 54ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, é um otimista que pede: “nada de derrotismo”.
Apesar da crise econômica e política, ele vê que a participação consciente dos leigos e das leigas na política pode ajudar a melhorar o que está ruim. O importante é não ficar só criticando, defende.
Nesta entrevista, discutimos, rapidamente, o momento social e político, com o bispo emérito de Blumenau.
Agência Sul 4 de Notícias — Dom Angélico, alguns de nossos leitores reclamam que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil seria responsável pela chegada PT ao poder e também por sua manutenção. O senhor, que na época, era bispo de Blumenau, viu este suposto apoio?
Dom Angélico Sandalo Bernardino — A Igreja sempre tem declarado que não tem partido, somente as pessoas de má fé, ou alienadas, ou surdas, não ouvem isto. A Igreja incentiva leigos e leigas a serem uma presença de sal e fermento. Isto é, que transformem o mundo. Isso vale na família, na economia, nas diversas profissões e, também, na política. A política é uma forma superior de solidariedade, como disseram os papas Paulo VI, São João Paulo II e Francisco. É com a política exercida conscientemente e com responsabilidade, que podemos avançar.
Sul 4 — A política no Brasil hoje está passando por uma situação que não parece tão positiva…
Dom Angélico — No Brasil temos muitos problemas, mas, são problemas que nós vamos solucionando com trabalho e com diálogo. O importante, é que cada um tome consciência de sua responsabilidade, se for leigo ou leiga, que marque posição, inclusive na política. O mundo e o Brasil podem melhorar na medida em que o poder poder público, os grandes meios de comunicação e os meios moderníssimos, como WhatsApp, Facebook e Twitter, estejam a serviço da verdade e do bem comum, e não com de afirmações, muitas vezes, malucas, sem nenhum fundamento na realidade. É preciso que haja realidade no que se diz.
Sul 4 — O senhor acredita que a democracia corre perigo com esta crise econômica e de legitimidade do poder político?
Dom Angélico — Estamos vivendo na República, com a Constituição de 1988 em vigor e que deve ser respeitada. Mas claro que precisamos de reformas econômica, política e ética. Existe gente interessada em desmoralizar o Poder Politico, mas é bom que a gente grite isso: ao lado de um político corrupto há o empresário corrupto. Com isso, não estou dizendo que todo empresário seja corrupto.
O capitalismo liberal está em crise no Brasil e no mundo. Muitas vezes, as pessoas, na análise, se esquecem que os Estados Unidos estiveram em crise e, que, atualmente, ainda há crise na Grécia, na Espanha e em Portugal. Esses países europeus vivem imersos na crise.
Não podemos ser terroristas de uma direita exacerbada, que, inclusive, sai às ruas pedindo a volta da ditadura militar. É desconhecimento total do valor da democracia.
Sul 4 — O senhor é um bispo esperançoso.
Dom Angélico — Precisamos melhorar? Precisamos. Precisamos fazer reforma política? Precisamos. Mas nada de derrotismo, de pensar que estamos no fim do mundo, pois não é verdade.