Invasores ameaçaram invadir as outras casas durante o domingo caso os indígenas não deixassem as casas (Foto: Madalena Giostri)

Dez dias depois de um atentado a tiros, os Guarani da Terra Indígena Morro dos Cavalos voltaram a sofrer ameaças. Desta vez, um grupo de homens invadiu a área por volta das 15h de sábado, 31, embarcados em dez automóveis e duas motocicletas, de acordo com informações do Conselho Indigenista Missionário. Eles exigem que os indígenas deixem a área até o meio dia de domingo.

— Disseram que se não saíssemos, iriam ocupar o espaço deste lado da rodovia, não só aquela casa —, contou a cacica Kerexu Yxapyry (Eunice Antunes).

Soltando rojões e trazendo uma mudança em um caminhão contratado, eles religaram a energia elétrica de uma casa desocupada há mais de um ano. Ali iniciaram uma festa.

O antigo proprietário, e identificado como líder da invasão pelos indígenas, Nedison José Fernandes, perdeu a disputa na justiça, dia 9, porque, de acordo com o Juiz Federal Marcelo Krás Borges, “quando o autor (da ação na justiça) tomou posse das terras, tais terras já eram consideradas indígenas. Neste sentido, a posse da terra controvertida era impossível juridicamente desde sua origem, pois os indígenas sempre foram os reais proprietários”.

Os indígenas vizinhos da casa refugiaram-se na escola da aldeia até a chegada dos agentes das polícias militar, federal e rodoviária federal, às 19h. Sem prender ninguém, as polícias deixaram o local, por volta das 22h, com a promessa dos invasores de que apenas quatro deles permaneceriam na casa durante a noite, embora o movimento de veículos tenha continuado depois.

De acordo com Chefe do Serviço de Proteção Territorial da FUNAI, João Mitia, Fernandes discorda do valor da indenização, de mais de R$ 60 mil, pelas benfeitorias. “A procuradoria da FUNAI está trabalhando para fazer o depósito judicial desse valor”, explicou. Os outros antigos proprietários já aceitaram a proposta da autarquia.

Com o feriado de finados na segunda-feira, a missionária do CIMI, Osmarina Oliveira, teme o prolongamento do conflito. É possível que apenas na terça-feira a justiça determine a reintegração de posse, se o juiz plantonista não considerar o caso urgente.

Os indígenas, alguns ativistas e a FUNAI permaneceram em vigília na escola para monitorar a situação durante o feriadão.

Na avaliação de Eunice, a abertura da CPI contra a FUNAI da Câmara dos Deputados e as notícias recentes contrárias à demarcação das terras publicadas na imprensa catarinense “abriram as porteiras para as pessoas que quisessem invadir a terra” porque “estariam ‘legitimadas’ a fazer isso”.