Fortalecimento da missão é o principal objetivo do encontro regional da Pastoral da Criança. (Foto: Marcelo Luiz Zapelini/Agência Sul 4)

A Pastoral da Criança realizou, em Florianópolis, Encontro Regional com 95 representantes dos estados de SC, RS e PR, entre os dias 25 e 28 de abril. Saneamento básico, acompanhamento nutricional, mudanças no regimento interno entre outros, estiveram em pauta.

Estes encontros visam a troca de experiências entre as dioceses e os estados e formação adicional nas ações da Pastoral da Criança, mas, principalmente, “o fortalecimento da missão, com momentos de espiritualidade e reflexão, este ano no contexto do ano da misericórdia”, explicou a coordenadora nacional da Pastoral da Criança, Irmã Veneranda Alencar.

No encontro, uma necessidade emergente apontada pelas dioceses é a falta de líderes, por diversos motivos, como falta de perfil, dificuldades financeiras e incompatibilidade de horário. Para a coordenadora, situação pode ser revertida.

— Nossa proposta é continuar a busca de líderes, a espalhar a semente da Pastoral da Criança onde quer que a gente vá. Porque uma coisa boa é que já temos a pastoral em todas as dioceses do país —, analisou.

Além da animação pelas lideranças em atividade é preciso o apoio do clero. “Cada vez que o padre abre uma porta, dá uma oportunidade, faz uma fala na missa, ou mesmo dá um aviso, fortalece essa busca por novos voluntários. Para estar na pastoral precisa fé e muita esperança, resto acontece”, indicou.

Panorama dos estados

Em Santa Catarina, de acordo com a coordenadora estadual, Loiri Salete Pessi Miorelli, um dos desafios da Pastoral da Criança é aproximar-se do trabalho das outras pastorais, em prol da pastoral de conjunto.

— Um desafio que temos agora é o trabalho com as mães e gestantes migrantes. Precisamos conversar com a Pastoral do Migrante e a Cáritas, para podermos conhecer essa realidade e ver de que forma podemos ajudar. Há experiências iniciais em Rio do Sul e em Itajaí. Agora é entrar em contato com as demais dioceses para ver o que a gente pode fazer em nível de Estado —, indicou a coordenadora.

Com a inclusão de novas ações, para além da desnutrição, as fronteiras da Pastoral da Criança incluem outras áreas, não apenas a periferia. “Hoje com a obesidade e o sobrepeso, temos que trabalhar com orientações para as famílias independente da classe social”, analisou.

Também é preciso que lideranças sejam despertadas nas próprias comunidades e condomínios, “para que eles sejam protagonistas da ação”. Além disso, a luta por políticas públicas deve ser mantida. “Temos que ter mais pessoas com formação e coragem para lutar por políticas públicas”.

No Rio Grande do Sul, a crescente falta de voluntários é um desafio muito grande, disse a coordenadora estadual, Maria Teresinha Alencar. “A partir dessa demanda, a gente está conseguindo chegar lugares onde nunca tínhamos chegado, comunidades rurais, comunidades indígenas, favelas, em que tínhamos dificuldade de chegar”, disse. Nas comunidades tradicionalmente atendidas pela pastoral, o trabalho tem tido dificuldades de se manter, “até por falta de crianças”.

Outro desafio, é convencimento das mães a aderirem às novas ações. “O povo do sul é muito técnico, tem que ver para crer”, explicou. Até a consolidação da proposta é preciso de um tempo, em que as pessoas estão mais sujeitas a desistir. “Essa que é nossa luta constante, pois o novo tem uma resistência”. Apesar disso, em Novo Hamburgo, Santo Ângelo, Caxias do Sul e Santa Maria a nova proposta de acompanhamento nutricional está caminhando bem, segundo a coordenadora.

Houve também uma redução na evasão de crianças atendidas. A queda média anual de 3 mil reduziu para mil. “Nós conseguimos segurar a perda das crianças nestes últimos dois anos”. Ela credita esta melhora à reestruturação do trabalho, que acontece agora com um plano de ação. “Os coordenadores que conseguem ter uma equipe focada no plano e que conseguem acompanhar este plano, obtém resultados positivos”.

No Paraná, a coordenadora estadual Maria Paula da Silva Prado, assumiu efetivamente em fevereiro, vê o momento para colocar a “casa em ordem”. Há 16 novas coordenadoras locais novas a assumirem esse ano. Por isso, as novas ações devem ficar para o ano que vem enquanto o conhecimento sobre projetos e ações é aprofundado.

— Fizemos um levantamento. Há muitos mandatos vencidos que precisam ser revistos. Temos cursos de missão e gestão para novos coordenadores de ramos (paróquias) que estão atrasados. Precisamos fazer tudo isso para depois darmos novos passos —, avaliou.

Temas

O gestor de relações institucionais da Pastoral da Criança, Clóvis Boufleur, apontou perspectivas em relação a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016 na Pastoral da Criança. Para ele, enquanto a pastoral faz pressão por políticas públicas, os líderes devem continuar investindo na educação das famílias em relação à higiene, porque sem um novo comportamento não adiantam as políticas públicas.

— Precisamos unir benefícios do Poder Público com mudanças de hábitos das famílias —, indicou Boufleur.

Ele também apresentou a nova iniciativa institucional para ampliar o quadro de articuladores, há 900 em atividade, mas o objetivo é chegar a 6 mil. Eles têm a função de definir com a comunidade qual a negação de direito prioritária e ajudá-la a resolvê-la, atuando junto às unidades de saúde, repartições públicas e nos Conselhos de Saúde, além de cooperar com as estruturas da pastoral.

— Podemos começar com um problema ou dois e ir até o final, pode ser o da dose imediata de antibiótico. Pelo menos metade dos articuladores podem começar com este problema, que é uma negação de direito —, sugeriu.

A oferta de vacinas em quantidade suficiente para as crianças e de ferro para as gestantes são outros direitos a serem garantidos, na sua sugestão.

A obesidade infantil já supera a desnutrição no país, por isso a Pastoral da Criança, atualizou seu método com a inclusão acompanhamento nutricional baseado na relação IMC/Idade, dentro da proposta da Organização Mundial de Saúde. Até 2018, todas as dioceses deverão contar com equipes capacitadas para esta ação.

A cada três meses as crianças são medidas e pesadas com um estadiômetro. Os dados são digitados em um programa de computador, que faz o cálculo do Índice de Massa Corporal e indica uma cartela de avaliação nutricional. O líder, então, orienta a família sobre o que pode ser feito para ajudar na saúde da criança. As cartelas são específicas para cada estado nutricional, desde desnutrição grave até obesidade.

A nutricionista da Pastoral da Criança Marcia Moscatelli de Almeida sugeriu que sejam feitas parcerias com as secretarias municipais de saúde, porque a obesidade pode ser causada por problemas de saúde. Com a parceria, as unidades de saúde podem ter acesso aos dados recolhidos ela pastoral da Criança. “Todos ganham”, pontuou.

Gustavo Antônio Voltado, membro da equipe de Coordenação Nacional da Pastoral da Criança, indicou a importância do monitoramento dos planos de ação. “Venho observando, que quando colocamos coordenadores com perfil o problema da falta de lideranças diminui”, pontuou.

Ele também destacou que é preciso foco nas metas e processos corretos para que o trabalho seja realizado do jeito certo. “Se alguém diz que precisa perder 20 quilos, posso dizer que basta cortar uma perna, que o problema está resolvido”, brincou.

Jucilene Evaristo da Silva, da área financeira, apresentou os métodos de prestação de contas do sistema on line. E chamou atenção para a importância dos detalhes, mesmo um centavo de diferença é um erro e precisa ser resolvido.

Este é o terceiro Encontro Regional de 7 previstos pela Pastoral da Criança para 2016 em todo o país.