Área de 2 mil hectares, habitada por 200 indígenas, é cortada pela BR 101 (Foto: reprodução)
Área de 2 mil hectares, habitada por 200 indígenas, é cortada pela BR 101 (Foto: reprodução)
O Regional Sul do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) divulgou nota pública, em 13 de agosto, para exigir do Jornal Diário Catarinense, do Grupo RBS, direito de resposta “para que a voz dos indígenas seja ouvida”, no mesmo espaço em que foi publicada uma série de reportagens “anti-indígenas” que questiona a validade da demarcação da Terra Indígena Morro dos Cavalos, em Palhoça.

De acordo com o organismo ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o jornal demonstrou “uma profunda falta de conhecimento a respeito da realidade dos indígenas”, por, entre outras razões, afirmar que os Guarani que vivem no Brasil são estrangeiros e não são habitantes tradicionais da área.

Para sustentar as inverdades, avalia o CIMI, o jornal ouviu apenas um único Guarani, que vive fora da terra indígena há anos, e o antropólogo Edward Luz, expulso da Associação Brasileira de Antropologia por falta de ética profissional.

“Sabemos que essas matérias fazem parte de mais uma campanha orquestrada contra os direitos indígenas com o objetivo de criar uma animosidade da população”, diz outro trecho da nota.

O CIMI lembrou que, em 2013, entidades assinaram a “Carta de repúdio às manifestações e ações anti-indígenas em Santa Catarina”, denunciando notícias falaciosas contra os indígenas.

A nota do CIMI afirma que a coletânea de documentos históricos, mapas, livros e a memória oral “dá conta que a população que habita o Morro dos Cavalos faz parte do mesmo povo que habitava o litoral quando da chegada de Cabral”.

Além de exigir a retratação do Jornal, o CIMI fará uma reclamação junto a Associação Brasileira de Imprensa por considerar que o veículo abusou do direito informar.

Leia a nota na íntegra aqui.

BR 101

A série “Terra Contestada”, que foi publicada entre 07 a 11 de agosto no Diário Catarinense, culpa os indígenas pelo “processo burocrático” pelo qual as obras de duplicação da BR 101 estariam passando há quase duas décadas. Os Guarani estariam usando as “ações urgentes” da duplicação para “extrair benefícios”.

O jornal também coloca em dúvida o destino dos “quantias milionárias” utilizadas na aldeia para compensação de impacto social e ambiental, por exigência da Fundação Nacional do Índio (FUNAI).

De acordo com a matéria, os indígenas atuais não seriam descendentes do clã que desbravou a região e teriam.

Para o CIMI, o argumento de que a BR 101 no morro dos cavalos não é finalizada por influência dos índios é falho, já que desde 2001, eles aceitaram a construção de túneis que atravessariam o morro em que habitam.

A reportagem é um fato mais recente em uma disputa que tem se acirrado desde que, em 2012, o decreto de desocupação da área pelos não-indígenas foi publicado. Ações violentas obrigaram a suspensão das aulas na aldeia e o fornecimento de água foi interrompido depois de mangueiras foram cortadas.

A CNBB Regional Sul 4 (Santa Catarina) divulgou nota, em setembro de 2013, para defender uma solução pacífica para a questão. Na ocasião, os bispos pediram ao governo a aplicação do artigo 148-A da constituição estadual, que autoriza o Estado promover reassentamento ou indenização a pequenos agricultores que estejam ocupando demarcadas.