Como um dos imigrantes a participar do Seminário Regional das Pastorais Sociais a respeito das migrações em Santa Catarina, em Rio do Oeste, 12 e 13, o Haitiano contou sua história desde a passagem pelo Equador, a caminho do Brasil, e a luta por uma vida melhor para ajudar a família, que ficou.
Nesta entrevista, ele conversa a Agência Sul 4 de Notícias em espanhol, um dos 4 idiomas que conhece, francês, creole, inglês e espanhol. Escapam-lhe algumas palavras em português, mostrando que um quinto idioma está para entrar na lista.
Agência Sul 4 de Notícias – Piérre, você contou para os participantes do Seminário das Pastorais Sociais sobre Migrações, que ficou período no Equador. O que aconteceu com você até a chegada no Brasil?
Piérre – Normalmente, haitianos tem acesso ao Equador sem visto. Assim, eu fui comprar uma passagem para o equador. No Equador eu pedi um visto (para Brasil). Fiquei quatro meses esperando este visto. Lá, você sabe, é um país estrangeiro, não é o meu país, tive que pagar aluguel, durante esses meses, pagar luz, água, os alimentos. Tudo! Quase terminando meu dinheiro, tinha que pagar 200 dólares pelo visto. Depois de receber o visto, fui comprar uma passagem para o Brasil. Essa passagem custou 460 dólares.
Agência Sul 4 – Como foi sua chegada em Tubarão?
Piérre – O aeroporto que eu pousei foi em São Paulo, quando cheguei na rodoviária de São Paulo eu paguei oitenta e poucos reais para a cidade de Tubarão. Cheguei em Tubarão com cinco reais. Essa é uma história que parece impossível, porém, é verdade. Eu cheguei na rodoviária as onze da noite. Passara o dia com fome e na rodoviária de Tubarão passei onze da noite, meia noite, toda a noite, com fome. Fiquei lá esperando o meu amigo que vinha buscar-me de manhã. Graças à Deus e a Cáritas de Tubarão, desde o outubro, que eu fico lá. Não pago aluguel, eles me ajudam com meus alimentos. Graças à Deus, depois de oito dias, eu comecei a trabalhar em uma fábrica que prepara frutos do mar.
Agência Sul 4 – Nesses 5 meses que está no Brasil, avalia que está atingindo seus objetivos?
Piérre – Tenho uma família para ajudar. O que sobra eu mando para o Haiti. E fico sem nada. No próximo mês igual e próximo igual (risos). Não sei se vai mudar a situação econômica, porém se ficar assim, não será possível.
Agência Sul 4 – Então, você está reavaliando a sua permanência no país…
Piérre – Eu trabalhava como professor de inglês, fiquei dois anos na República Dominicana estudando administração de empresas, eu sou construtor de casas, eu sou técnico de computação. E aqui, como disse, trabalho numa fábrica de frutos do mar (risos). E segundo, por quatro anos trabalhei como bartender. O que acontece? Eu não tenho problema com isso, porque trabalho, o meu problema é o salário. Uma pessoa trabalhando assim, um mês, dois meses, um ano, dois anos, cinco anos, dez anos não pode conseguir nada. E segunda lugar, aqui não se pode pagar salário semanal ou quinzenal. Se você receber hoje, ou dia primeiro, por exemplo, o dinheiro se vai, e tem que esperar o dia primeiro do mês que vem. E você passa com fome (risos).
Agência Sul 4 – No Haiti os salários são pagos com mais frequência que no Brasil?
Piérre – Quinze dias. República Dominicana, quinze dias. Boston, a cada semana. Um trabalhador sem nível superior, recebe 500 a 600 dólares no Equador, um país mais pobre e menor que o Brasil. Na Guiana Francesa, quase mil e cem euros, que vale mais que o dólar. É muito, muito difícil. É por isso, que muitos haitianos saem, vão para o Chile, para a Guiana Francesa, para Estados Unidos, para a França. Eu saí (do Haiti) para buscar uma vida mais ou menos melhor. Eu gosto daqui, é um país bem tranquilo. Se não se busca problema, problema não vem. É um país bonito. Os haitianos gostam dos brasileiros. Os brasileiros são boas pessoas. Porém, não é isso que estamos buscando (risos).
Locução: Carla Ferrera