Por Gustavo Borges de Souza
Seminarista de Teologia da Diocese de Lages (SC)
52° DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS
– FAKENEWS E JORNALISMO DE PAZ –
A verdade vos tornará livres (Jo 8, 32)
No último dia 13 de maio, o Domingo da Ascenção, foi celebrado como de costume o Dia Mundial das Comunicações Sociais, em sua 52° edição. Todos os anos o Papa escreve uma mensagem para marcar este dia tão importante para a Igreja e sociedade em geral.
Este ano, o Papa Francisco escreve sobre um tema que não poderia ser mais atual e relevante: as “fakenews”. A expressão “fakenews” pode ser traduzida como “notícias falsas”, ou aquelas informações que não tem compromisso com a verdade, que são infundadas ou mesmo baseadas em fatos e dados totalmente distorcidos da realidade.
Em sua mensagem, o Papa Francisco escreve sinteticamente sobre essa realidade que assombra os dias atuais. Essas notícias falsas são enganadoras e confusas, e tem o intuito de justamente deixar o leitor ou espectador com curiosidade. Apesar destas notícias serem desprovidas de fundamentos, elas ganham uma amplitude que até mesmo aqueles que tentam desmenti-la sentem-se um tanto que incapazes de o fazer.
A maior característica das fakenews são o imediatismo, aquelas notícias que se apresentam ao meu alcance e que em apenas um “click” eu encaminho, compartilho e tomo como verdade. Isso é, de fato, o objetivo daqueles que produzem tais notícias distorcidas e confusas. Neste caso, não há um “confronto”, comparação e verificação entre notícias, simplesmente se difunde informações distorcidas e infundadas. Diante de tudo isso, é preciso parar e pensar: como posso identificar tais notícias? O principal passo para perceber as fakenews são as comparações entre os dados e notícias apresentadas, como por exemplo não ficar apenas em uma fonte de informação – um único jornal, site, revista (…), mas ir além e ver se tais notícias tem mesmo um fundamento.
O Papa Francisco faz uma analogia, ou seja, compara esse fenômeno fakenews com a narração do “pecado original” – Adão, Eva e a serpente, e chama o fakenews de lógica da serpente. Essa comparação do Papa é interessante, pois ele equipara a manipulação, a falta de verdade e o objetivo de prejudicar da serpente na narração bíblica do livro do Gênesis (3-4) com a fakenews. O Papa faz a ligação de que pode até iniciar com uma “afirmação verdadeira”, mas esta só será em parte, pois o intuito é jogar a manchete, convencer e fazer que esta se espalhe.
Partindo do entendimento do que é fakenews, do seu poder de se disseminar rapidamente e da possível incapacidade de controlar, o que podemos fazer para nos proteger de tamanho fenômeno? O Papa Francisco nos diz que: “o antídoto mais radical ao vírus da falsidade é deixar-se purificar pela verdade”. Francisco diz que para nós cristãos, o sentido de verdade vai muito além que apenas conceito, ou simplesmente entender a verdade como aquela que joga luz sobre coisas obscuras. Não! A verdade para os cristãos segundo o Papa Francisco, é aquilo que nos toca verdadeiramente, aquele entendimento bíblico de apoio, solidez, confiança, do qual surge a palavra “amém” que tanto nós falamos. Desta forma, o único em que devemos colocar a nossa confiança, pois abemos que tem a verdade como princípio incondicional, é Jesus Cristo, que o sabemos através de sua própria afirmação: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6).
“O antídoto mais radical ao vírus da falsidade
é deixar-se purificar pela verdade” (Papa Francisco)
Um aspecto importante no que se refere a busca da verdade, é o entendimento sobre o discernimento da verdade. Segundo o Papa Francisco, para escolher a verdade precisamos examinar e pesar aquilo que favorece a comunhão e promova o bem, diferenciando daquilo que divide e causa isolamento. Desta forma, é importante afirmar que nunca paramos de buscar a verdade, pois sempre teremos em nossa vida algo de falso que atentará sobre nós.
Diante de tantas notícias da atualidade, qual delas é a mais verdadeira? Em sua mensagem, o Papa Francisco nos diz que “a paz é a verdadeira notícia”. Assim como os evangelhos são chamados de “boa nova ou boa notícia”, a paz em nosso tempo é a verdadeira notícia, aquela que não pode faltar nas manchetes e também em nossa consciência. Nos dias atuais, o primordial aspecto daqueles que se dedicam – por amor ou pela digna profissão, à comunicação, a fazer um jornalismo verdadeiro e sério é a responsabilidade. Para os comunicadores responsáveis, o que deve estar em “jogo” não é a rapidez com que a notícia é publicada, muito menos o impacto ou audiência que ela vai causar, mas, acima de tudo isso estão pessoas. As mesmas pessoas que publicam são as que recebem, as mesmas também que por vezes são o assunto que é tratado.
O Papa Francisco ao final da sua mensagem apresenta uma importante distinção: que possa haver um jornalismo de paz e que esse não seja entendido como um “jornalismo bonzinho”, que negue a existência de problemas na sociedade. Ao contrário, o Papa diz que pensa em um jornalismo “sem fingimentos, hostil às falsidades, a slogans sensacionais e a declarações bombásticas; um jornalismo feito por pessoas, para pessoas e considerando como serviço a todas as pessoas, especialmente àquelas – e no mundo, são a maioria – que não tem voz; um jornalismo que não se limite a queimar notícias, mas se comprometa na busca das causas reais dos conflitos, para favorecer a sua compreensão das raízes e a sua superação através do avivamento de processos virtuosos; um jornalismo empenhado a indicar soluções alternativas às escalations do clamor e da violência verbal”.
Que possamos sempre mais cuidar com as notícias falsas, não com o que lemos, ouvimos e compartilhamos aos outros, mas sim de onde extraímos tais informações. Somos convidados pelo Papa Francisco a propagar a verdade e superar as fakenews, e principalmente seguir Àquele que é a suprema verdade, Jesus de Nazaré. Só assim se cumprirá as palavras do evangelho de João: “a verdade vos tornará livres” (Jo 8,32).