O Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB) do Regional Sul 4 da CNBB concluiu sua 4ª Assembleia Regional, realizada de 15 a 17 de novembro no Centro Diocesano de Formação Dom José Jovêncio Balestieri, em Rio do Oeste (SC). O encontro teve como objetivo celebrar a memória do Laicato em Santa Catarina, testemunhar a Sinodalidade, promover o cuidado com a Ecologia Integral e fortalecer o Organismo CNLB no Regional Sul 4.

Com o tema “Profecia, testemunho e memória a serviço do Reino” e o lema “Quanto a nós, não podemos deixar de falar do que vimos e ouvimos” (At 4,20), a assembleia abordou três temas centrais: Análise da Conjuntura Eclesial, apresentada pelo professor Michel Ubirajara Becker; Cuidado com a Ecologia Integral, discutido pelo professor Dr. Telmo Pedro Vieira; e a Sinodalidade, trabalhada pela presidente do CNLB, Sônia Gomes de Oliveira.

 

Análise da Conjuntura Eclesial

O Professor Michel Ubirajara Becker compartilhou a análise sobre a conjuntura eclesial. A apresentação destacou o impacto histórico e atual do laicato, partindo de marcos como a Revolução Francesa e o Concílio Vaticano II, até os desafios contemporâneos da Teologia da Libertação e a crise de comunhão na Igreja. Becker apontou questões como desinstitucionalização, individualismo e a polarização ideológica, que afetam tanto o ethos quanto as práticas pastorais.

Entre os destaques, foi discutido o “neomaniqueísmo”, uma visão binária que separa “bons” e “maus” dentro e fora da Igreja, gerando dificuldades de diálogo. O professor também alertou sobre o risco de formação de “guetos eclesiais”, marcados por bolhas ideológicas e desconexão com a diversidade pastoral.

Becker enfatizou a necessidade de o Laicato assumir maior protagonismo em questões sociais e eclesiais, superando barreiras como o clericalismo e a burocracia institucional. Ele destacou o potencial transformador da atuação política, do diálogo inter-religioso e da valorização de movimentos como as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).

Outro ponto levantado foi a urgência de enfrentar crises sociais e ambientais com uma perspectiva integral, promovendo um espírito comunitário e inclusivo. Segundo o professor, a Igreja é chamada a ser “no mundo, mas não do mundo”, mergulhando na realidade sem se limitar às suas estruturas.

Becker concluiu sua análise com um chamado à ação fundamentada no amor e na partilha, inspirado pelo pontificado do Papa Francisco. A simplicidade, a preocupação com a Casa Comum e o clamor pelos marginalizados foram apresentados como caminhos para uma Igreja mais inclusiva e fiel ao Evangelho.

 

Ecologia Integral

O tema da Ecologia Integral, conduzida pelo Professor Dr. Pedro Telmo Vieira, na qual utilizou como base as encíclicas Laudato Si’ (2015) e Laudate Deum (2023), do Papa Francisco, conectando o debate ao enfoque da Campanha da Fraternidade de 2025.

O tema central abordado enfatizou a urgente necessidade de um compromisso coletivo no cuidado da “Casa Comum”. Segundo Dr. Pedro, a Ecologia Integral propõe uma inter-relação entre o divino, o humano e a criação, transcendendo as divisões e promovendo uma visão sistêmica que une o ambiental, social, cultural e espiritual.

Entre os desafios discutidos, destacou-se o impacto das mudanças climáticas, incluindo o desmatamento, a perda da biodiversidade e o modelo predatório de desenvolvimento. A mensagem reforçou o chamado à conversão ecológica, que exige mudanças profundas nos paradigmas de consumo e nos modelos de desenvolvimento econômico.

A apresentação também incentivou a implementação de ações concretas em comunidades eclesiais, como criação de hortas comunitárias, reciclagem, e inclusão da temática ecológica em processos catequéticos e pastorais.

Dentro do tema abordado, os participantes tiveram o testemunho de quatro pessoas que trabalham com os projetos comunitários no âmbito da Ecologia integral, e foram encorajados a “esperançar”, assumindo um papel ativo na transformação da realidade socioambiental e fortalecendo a luta por justiça, solidariedade e sustentabilidade.

 

Experiência Sinodal destacada pela Presidente do CNLB

A presidente do Conselho do Laicato do Brasil (CNLB), Sônia Gomes de Oliveira, compartilhou a experiência vivenciada no Sínodo dos Bispos, enfatizando os desafios e aprendizados de uma Igreja Sinodal e Missionária.

Sônia abordou questões como corresponsabilidade, diálogo, escuta e missão, destacando a necessidade de uma Igreja que vá ao encontro, superando estruturas fechadas e clericalismo. A presidente lembrou que o papel da Igreja é buscar os rostos e histórias de todos, especialmente das periferias.

Outro ponto destacado foi a celebração penitencial liderada pelo Papa Francisco, que incluiu testemunhos de vítimas de abusos, guerras e migrações. Sônia relatou o impacto emocional dessa experiência, que reforçou o compromisso com uma Igreja que reconhece suas falhas e busca reconciliação.

A presidente também destacou as discussões nos grupos de trabalho criados pelo Papa, abrangendo temas como sinodalidade digital, papel dos leigos e valorização das mulheres na Igreja. Sobre o documento final do Sínodo, ela ressaltou a necessidade de maior presença dos leigos nos processos decisórios e na vida pastoral, incentivando uma corresponsabilidade mais efetiva.

Com um chamado à ação, Sônia motivou os participantes a serem embaixadores dessa transformação em suas comunidades, promovendo uma Igreja viva, missionária e comprometida com os valores do Evangelho. “Somos convocados a caminhar juntos, com coragem e esperança, sendo sinais de alegria e transformação no mundo”, concluiu.

Sonia refletiu sobre o papel e a missão dos leigos e leigas na Igreja contemporânea, destacando a importância de sua vocação e participação ativa nas estruturas eclesiais e na sociedade. Ressaltou que a vocação laical se manifesta especialmente no compromisso com a realidade social e a construção de uma Igreja sinodal, marcada pela corresponsabilidade e protagonismo. Entretanto, são mencionados desafios como o clericalismo, a falta de formação adequada e o reconhecimento limitado de sua missão, além da necessidade de repensar estruturas para integrar melhor os leigos e promover uma Igreja mais inclusiva e missionária.

Como perspectiva, enfatizou a necessidade de revisitar e autenticar a vocação laical, acolhendo o espírito sinodal para transformar a Igreja em uma comunidade aberta e em constante diálogo com as periferias existenciais e sociais. Esse processo requer organização, compromisso pastoral, e uma espiritualidade viva, com atenção às realidades concretas. O protagonismo das mulheres e o fortalecimento do laicato como sujeito eclesial são destacados como passos essenciais para construir uma Igreja em saída, voltada para a missão compartilhada e solidária com os desafios locais e globais.

Durante a 4ª Assembleia do CNLB, foi elaborada uma carta compromisso em ocasião do Dia Mundial dos Pobres. Os participantes refletiram sobre a trajetória dos cristãos leigos e leigas, reafirmando seu compromisso com a identidade, missão, vocação e espiritualidade, organizando-se como sujeitos eclesiais em busca de uma sociedade mais fraterna e acolhedora.

O encontro abordou temas como os desafios ecológicos e a importância de promover a ecologia integral nas ações pastorais. Também foram assumidos compromissos com a Campanha da Fraternidade 2025 e com o fortalecimento da atuação dos leigos nos espaços de controle social.

Inspirados pelo espírito da sinodalidade, os participantes propuseram ampliar o alcance do CNLB, integrar diferentes expressões laicais, fortalecer articulações existentes e criar novas iniciativas em dioceses ainda não contempladas. O foco está na promoção de formação continuada, no diálogo, na caridade ativa e na denúncia das injustiças.

 

Matéria e fotos: Jaison Alves da Silva | ASCOM CNBB Sul 4