“A minha última conta de bar foi 860 reais”. “Eu chegava em casa depois do trabalho e ia direto para o bar”. Eu achava que isso não estava prejudicando a minha vida ou a minha família”. “Hoje eu vejo o quanto meus filhos e minha esposa sofreram com aquilo”. A pior coisa que o álcool fez comigo foi me levar para cocaína”. “Foi ali que eu percebi que eu não tinha mais jeitos, que eu estava acabado”. Essas poderiam ser frases de um filme dramático, mas refletem a realidade de muita gente que passou pela Pastoral Antialcoólica que no dia 8 de novembro comemora 25 anos de existência na Diocese de Joinville.

Atualmente são 21 equipes, incluindo um grupo itinerante que faz palestras e formações em empresas independentemente do horário em que são chamados para testemunhar e oferecer apoio. O alcoolismo é um problema mundial e que aqui no Brasil atinge a população de todas as faixas etárias e sociais. Uma pesquisa do Ministério da Saúde apontou que 17,9% da população adulta no Brasil faz uso abusivo de bebida alcoólica. O percentual é 14,7% a mais do que o registrado no país em 2006 (15,6%).

É considerado uso abusivo de álcool, a ingestão de quatro ou mais doses entre as mulheres e cinco ou mais doses de bebidas alcoólicas entre os homens, em uma mesma ocasião, nos últimos 30 dias. O Ministério da Saúde alerta que o consumo de qualquer tipo de bebida alcoólica pode trazer danos imediatos à saúde ou a médio e longo prazo. A médica Mariana Cristovão Garcia que é residente de psiquiatria conta que o álcool interage com o sistema nervoso causando relaxamento e diminuição da ansiedade, sintomas similares ao que acontecem quando a pessoa toma alguns medicamentos tarja preta. “Além disso, quando a pessoa ingere o álcool é como se ela ativasse a região das recompensas no cérebro. É como se você fizesse alguma coisa muito boa e o seu cérebro entendesse que tem que liberar substâncias de prazer”, explica a profissional. E é por isso que a bebida alcoólica causa dependência.

Marielson Marciniak médico residente em psiquiatria fala sobre o tratamento de uma pessoa que tem problemas com álcool e outras drogas. “É importante saber que as recaídas podem acontecer durante este processo e que isso não deve ser motivo de julgamento por quem está próximo. Falando nisso, a família e quem convive com essa pessoa também precisa receber apoio e estar disposto a ajudar. Todos esses são fatores que contribuem para o sucesso no tratamento. O importante é o paciente não desistir. O objetivo é reduzir gradativamente os danos que podem ser causados por causa do alcoolismo”, relata o profissional.

História da Pastoral Antialcoólica na Diocese de Joinville

Na década de 90, voluntários que trabalhavam com a Pastoral Social da paróquia São João Batista perceberam que muitas famílias que eram ajudadas tinham problemas com álcool. A partir de então esses líderes conheceram o trabalho que era desenvolvido pela Associação Antialcoólica que tinha sede em São Paulo e havia implantado um núcleo de apoio na paróquia Imaculada Conceição, do bairro Boa Vista, em Joinville.

No dia 8 de novembro aconteceu a primeira reunião de apoio na paróquia São João Batista. Na oportunidade, 36 pessoas se reuniram. “A gente já conhecia a realidade das famílias e assim fomos convidando quem precisava de ajuda para que conhecessem aquele trabalho que estava iniciando”, relembra Luiz Carlos Sales que foi um dos fundadores da pastoral e atua como voluntário até hoje.

Depois disso, durante uma Assembleia Diocesana Pastoral foi aprovada a criação da Pastoral Antialcoólica. Desde então, milhares de pessoas foram atendidas. Atualmente, a estimativa é que cerca de 600 participem dos encontros que acontecem semanalmente em paróquias e comunidade de Joinville e outras cidades da diocese.

Durante essas reuniões, a acolhida é um dos principais momentos. É nesta hora que quem está participando pela primeira vez se sente parte do grupo. Na sequência tem os depoimentos de quem superou o vício, a leitura e reflexão do Evangelho do dia e o momento em que as pessoas são convidadas a ingressar na pastoral. É o momento chamado de “aceite”. “É importante a gente deixar claro que nem sempre a pessoas precisa ser dependente para participar das reuniões e aceitar ser um membro. Aliás, em muitos casos é um familiar que procura ajuda primeiro, geralmente a mãe ou a esposa”, conta o coordenador diocesano da Pastoral Antialcoólica, Jaime José Ulbrich.

Com o passar dos anos os grupos foram se instalando em outros endereços e os líderes também perceberam a necessidade de ter uma sede própria. Em 2001, a prefeitura de Joinville fez uma sessão de uso para que a Pastoral Antialcoólica pudesse usar uma área com mais de 6 mil metros quadrados, no bairro João Costa. O espaço é usado para retiros, encontros e formações de lideranças.

A constatação empírica de quem está à frente dos grupos de apoio de que tem aumentando o número de mulheres que buscam ajuda é confirmada pela pesquisa feita pelo Ministério da Saúde. Em 2006 a quantidade de mulheres que faziam uso abusivo de álcool era de 7,7%. Hoje esse número é de 11%. Crescimento superior ao dos homens que ficavam em 24,8% e hoje estão em 26%. Desde 1967 a Organização Mundial da Saúde considera que o alcoolismo é uma doença.

Para comemorar o aniversário de 25 anos, na sexta-feira (8), às 20h, o bispo Dom Francisco Carlos Bach preside uma Missa na paróquia São João Batista, do bairro Fátima. Quem precisa de apoio ou conhece alguém que tenha problemas com álcool e drogas pode procurar uma das salas da Pastoral Antialcoólica ou então entrar em contato com os responsáveis pelo telefone (47) 3463-8598.

Conheça alguns relatos de superação com a colaboração da Pastoral Antialcoólica da diocese de Joinville clicando aqui.

 

Foto e texto por Assessoria de Comunicação da Diocese de Joinville.