Na segunda reportagem da série ‘Igreja Solidária: boas iniciativas da Igreja Católica em Santa Catarina’, vamos para o norte do estado, na Diocese de Joinville. Por lá, a Ação Solidária Emergencial se tornou uma verdadeira ‘Maratona da Solidariedade’. Campanhas fazem do território diocesano uma hospedaria de cuidado e de compaixão para com os mais necessitados, um lugar de colheita de testemunhos emocionantes. Da cidade das flores, a esperança floresce.
Hoje quem nos leva para conhecer estas boas iniciativas é a jornalista Tatiana Sabatke, da Assessoria de Imprensa da Diocese de Joinville. Confira com a gente!
Solidariedade que alimenta quem enfrenta a crise causada pela pandemia
“Leia por favor. Não jogue fora.
Oi, meu nome é Kauane, tenho 13 anos, e estou grávida de cinco meses. Moro com minha mãe e meus três irmãos – uma menina de 5 anos e dois meninos, um de um 1 ano e outro de 10 anos. Eu e minha mãe vendemos coxinha e é assim que ganhamos dinheiro para o sustento da família.
Mas, infelizmente, agora não podemos fazer. Se alguém ler essa carta, peço muito que nos ajude. Dói muito ver meus irmãozinhos pedir as coisas e não ter nada para dar para eles.”

Este é o trecho de uma carta que foi deixada na caixa com correio da paróquia São Francisco de Assis, no bairro Adhemar Garcia, em Joinville. Pedidos como o da Kauane chegam todos os dias até as igrejas católicas da Diocese de Joinville e eles têm aumentado depois que Santa Catarina passou a contabilizar casos de coronavírus. “Nós já trabalhávamos com a distribuição de cestas, mas os pedidos triplicaram, revelou o padre Fabio Almeida da paróquia Nossa Senhora de Belém.
A solidariedade de milhares de pessoas que contribuíram com doações na região Norte do estado fez com que os organizadores da Maratona da Solidariedade somassem mais de 44 toneladas de arrecadação. O suficiente para fazer 220 mil refeições, levando em consideração que cada tonelada equivale a 5 mil pratos de comida segundo o projeto Mesa Brasil. São donativos como alimentos, produtos de higiene e limpeza em um mês e meio da ação que envolve também a NDTV Record TV, Bombeiros Voluntários, Polícia Civil de Joinville e postos de combustíveis associados ao Sindipetro.
A cartinha de Kauane encontrou o destino certo. Foi parar nas mãos da voluntária Eliane Martendal que agiu como nos ensina a Campanha da Fraternidade. Viu, sentiu compaixão e cuidou. O pedido da família foi atendido e eles puderam garantir a refeição. Depois que a história foi divulgada, a adolescente também recebeu doações de roupinhas de bebê.
“Eu senti uma emoção muito grande, por ser uma menina de 13 anos preocupada com os irmãos menores”, contou Eliane. Já o padre Dulcio Araujo, pároco no bairro Adhemar Garcia, em Joinville fez uma reflexão sobre o que podemos aprender com o surto de coronavírus. “A pandemia, entre tantas coisas, veio nos ensinar que devemos ser mais solidários, que precisamos de uma economia mais solidária. Com ajuda dos meios de comunicação, ela está despertando nas pessoas a consciência da realidade em que vivemos e está mudando a mentalidade das pessoas”, salientou.
Além das mais de 2.500 famílias, entidades assistenciais também estão recebendo os alimentos e produtos de limpeza. Muitas já contavam com a solidariedade da população mesmo antes da pandemia e agora, podem continuar oferecendo ajuda, porque ainda encontram as mãos estendidas para colaborar.

De São Bento do Sul, no Planalto Norte do estado, o exemplo que o que pode parecer pouco para mim é muito para Deus. O bilhete deixado junto com um pacote de polentinha mostra o quanto o catarinense tem como marca registrada a solidariedade. “Esse recado cortou meu coração. Não sabemos quem deixou porque a doação foi encontrada por voluntários que separavam os produtos para montar as cestas básicas”, disse o padre Mario Tito Angioletti, da paróquia Puríssimo Coração de Maria.

A Maratona da Solidariedade tem ainda outros apoiadores como comércios e mercados que são pontos de coleta e rádios da região que ajudam na divulgação.
Auxílio para quem vive nas ruas
Logo no início da pandemia, o Centro Pop que acolhe pessoas em situação de rua em Joinville ficou fechado. Mais de 700 pessoas ficaram sem o amparo e até mesmo sem conseguir um copo de água, pois vezes contam com a boa ação de comerciantes. Um acordo entre a Diocese de Joinville e a prefeitura da cidade garantiu que o local fosse aberto no fim do dia para que as pessoas pudessem fazer a higiene e também receber uma marmita. Dezenas de voluntários já se uniram nesta corrente que continua acontecendo mesmo em dias de feriado, quando o órgão está fechado e também não há atendimento nos restaurantes populares.
“Sabemos que as nossas igrejas são referências em muitas comunidades e não deixaremos as pessoas desassistidas. Desde o início da pandemia criamos uma grande corrente para levar a Palavra de Deus, o conforto e a paz necessária aos nossos fiéis neste momento”, concluiu dom Francisco Carlos Bach, bispo da Diocese de Joinville.

Por Tatiana Sabatke, da Assessoria de Imprensa da Diocese de Joinville.