Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado.
Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor” (Jo 20,20).

Refletindo, rezando e buscando uma inspiração para partilhar uma mensagem de Páscoa no espaço “A palavra do Pastor”, deparei-me com um belo texto do Pe. Adroaldo Palaro, sj. Decidi então, partilhar com você alguns destaques e aquilo que mais me marcou na sua reflexão a partir do texto bíblico:  Jo 20,19-31 (fonte: https://centroloyola.org.br), com enfoque nos sinais da presença do Ressuscitado entre nós e como a Ressurreição de Jesus toca nossa existência.

As aparições são a maneira mais convincente de transmitir a vivência daquilo que Jesus Cristo significou para os primeiros seguidores(as), depois da desoladora experiência de Sua paixão e morte. O que a primitiva comunidade quis transmitir foi a experiência de que Jesus Vive e, além disso, continua comunicando-lhes aquela mesma Vida da qual tantas vezes Ele lhes havia falado. A Vida que o Cristo Ressuscitado lhes comunicou, permanece. Esta é a mensagem de Páscoa.

Com o conceito de Ressurreição quer-se expressar, então, a mensagem de que a morte de Jesus não foi o final. Sua morte não foi a meta, senão que sua meta foi a Vida, uma Vida em Deus, a mesma Vida de Deus, como nos diz João: “O Pai que vive me enviou e eu vivo pelo Pai”.

Jesus não volta à vida. Está já na vida. Por isso os relatos pascais insistem em que Jesus não é uma recordação do passado, mas que está vivo e ativo entre os seus. Dando seu Espírito, Jesus quer que seu Projeto seja também realizado por todos os seus(suas) seguidores(as). […].

“Viver como ressuscitados” implica esvaziar-nos do “ego”, para deixar transparecer o que há de mais divino em nosso interior. É preciso destravar portas e janelas de nossos estreitos lugares para que o novo Sopro do Ressuscitado areje nossa interioridade, ainda envolvida na sombra e no medo. Todos nós temos de passar e superar o mesmo processo vivido pelos discípulos e discípulas, se quisermos entrar na dinâmica da experiência Pascal. […].

Os sinais da Ressurreição não são diferentes daqueles da Paixão, mas os mesmos: os cravos e a lança. Não nos enganemos, trata-se do Crucificado; Ele é o Ressuscitado. Não há outro modo de encontrá-lo e verificá-lo a não ser tocando a marca dos cravos e o seu lado traspassado. Só que agora quem o vê e o toca, sente a força que o Crucificado/Ressuscitado tem para libertar e curar, para sanar e levantar, para dar vida e vencer a morte. Suas cicatrizes são curativas e sanam aqueles que O contemplam e O descobrem no cotidiano da história. “Tocar” no Ressuscitado é “tocar” a carne dos feridos e excluídos de nosso meio.

Jesus Ressuscitado continua carregando em suas mãos, pés e lado, a ferida da história; não só as chagas dos cravos e o corte da lança em seu próprio corpo, mas a chaga dos enfermos e expulsos, dos famintos e oprimidos… e de todos aqueles que continuam sofrendo ao nosso lado.

Experimentamos a Ressurreição quando somos capazes de acreditar que a boa semente precisa morrer para dar frutos, isto é, que a vida bem vivida é aquela que está a serviço e que deve ser bem cuidada. A Ressurreição acontece quando alimentamos a pequena chama que ainda fumega nos corações desanimados, mas esperançosos; quando acreditamos no ser humano e em suas possibilidades de mudança; quando transformamos escuridão em luz, choro em dança, sofrimento em crescimento.

Vivemos a Ressurreição quando ajudamos os outros a encontrar razões para viver e alimentamos os sonhos por dias melhores, com pão na mesa de todos e com dignidade garantida. A Ressurreição acontece nos pequenos e simples gestos de partilha, de perdão sincero e de confiança alegre. E se revela na capacidade de ver o mundo e as pessoas com olhar de misericórdia, que reconstrói a existência fragmentada. […].

A Ressurreição de Jesus toca nossa existência e nos possibilita experimentar o céu enquanto caminhamos pela terra, viver o divino misturado com o humano. Assim, o bem, a bondade e a solidariedade nos colocam na perspectiva do paraíso. A Ressurreição nos eleva e nos orienta para o Transcendente e para os valores mais altos, sem perder a simplicidade e complexidade de cada dia.

Ao entrarmos no mistério das coisas, pessoas e acontecimentos, somos banhados pela onda vital que emana de Deus. Dessa maneira, a vida nova resplandece e ilumina a escuridão da humanidade. A perspectiva da Ressurreição nos permite, portanto, dar um salto em direção à vida plena, ainda que marcada pela dor, pela cruz e pelos sinais de derrota.

Para os semeadores do bem, a vida é recompensa e fruto. E tem a última palavra…

 Dom Odelir José Magri – Bispo da Diocese de Chapecó | Foto: Jaison Alves da Silva