A hospitaleira e italiana Nova Veneza, cidade com mais de 14 mil habitantes no sul do estado de Santa Catarina, foi o ponto de encontro, neste fim de semana, do IX Congresso Regional da Pastoral Familiar. Desde a noite de sexta-feira, 28, até o início da tarde deste domingo, 30, os representantes das dez dioceses do Regional Sul 4 da Confêrencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que engloba todo o estado de Santa Catarina, estiveram reunidos no Palácio das Águas, onde refletiram o tema “O Evangelho da Família, alegria para o mundo”.

Em uma parceria entre a Pastoral Familiar e a Coordenação de Pastoral da Diocese de Criciúma, com o apoio da Prefeitura Municipal, o teatro neoveneziano foi transformado em uma sala de estar para acolher os casais, crianças, bispos, padres, diáconos, seminaristas, religiosas e demais leigos e leigas participantes do encontro. Diversos momentos celebrativos permearam o congresso, com forte espiritualidade. Ao todo, foram mais de 400 congressistas, muitos acolhidos nas casas das famílias do município.

Na noite de sexta (28), o bispo da Diocese de Criciúma e vice-presidente do Regional Sul 4 da CNBB, dom Jacinto Inacio Flach, deu as boas-vindas aos congressistas, em sua maioria casais, com participação de leigos, bispos, padres, diáconos e religiosas. “Precisamos refletir e nos reforçar para sermos presença de sal e luz no meio da sociedade. Que a presença de Deus esteja no meio de nós para que este congresso seja uma força, uma presença de sal, luz e fermento para nossas comunidades em nossa Igreja do Regional Sul 4”, frisou o bispo, relacionando aos desafios que a família e a Igreja encontram no mundo.

O prefeito da cidade anfitriã do encontro, Rogério Frigo, manifestou satisfação em nome dos munícipes. “É um orgulho para Nova Veneza ser a cidade escolhida para esse congresso; uma cidade pequena, do interior, mas muito aconchegante e visitada por muitas pessoas. Acredito que vocês vão gostar de Nova Veneza e retornarão muitas vezes!”, disse Frigo sobre a cidade que comporta duas paróquias e um dos três santuários da Diocese de Criciúma.

Durante a abertura do evento, o arcebispo de Florianópolis e Referencial da Pastoral Familiar em Santa Catarina, dom Wilson Tadeu Jönck, também fez sua saudação a todos e destacou em sua fala o quinto capítulo do Evangelho de São Lucas, onde Cristo pede a Pedro que lance as redes em águas mais profundas e relacionou o tema ao tempo de sua infância, quando pescava na cidade onde nasceu. “Se nós ficarmos pescando só em água rasa, ficamos brincando com piava e saímos um pouco frustrados com o resultado. No casamento, na vida familiar, também é assim. Se ficamos construindo nossa família com coisas da água rasa, elas acabam produzindo aborrecimentos. Casamento, família se constrói quando se vai a águas mais profundas e encontramos o amor que é capaz de se doar, construir família, se dedicar aos filhos. Um amor baseado na vida religiosa, na fé, coisas de águas mais profundas. Que o nosso congresso seja uma pesca em águas mais profundas, para que a nossa família seja sempre mais forte e um sinal da presença e do amor de Deus aqui e em todos os lugares”, disse dom Wilson.

A palestra da noite foi conduzida pelo doutorando em Teologia Sistemática pela PUCRS e sacerdote da Diocese de Criciúma, padre Thiago De Moliner Eufrásio, que falou sobre o tema “Pilares da Relação Matrimonial”. “O primeiro pilar é a pessoa como reconhecimento: tornamos-nos pessoas à medida que nos relacionamos e somos reconhecidos por outro, que tem a mesma dignidade; nosso segundo pilar é o rosto como resposta: depois do reconhecimento estabelecido, se dá o diálogo, a comunhão, a reciprocidade e a responsabilidade pelo outro. O terceiro é a fecundidade como confirmação: a partir do momento que há uma intimidade, uma entrega recíproca, ela gera vida e essa vida vai adiante, acontece não só no nível biológico, com os filhos, mas também na vitalidade que se gera onde se está. Esses três pilares são os três passos da vivencia conjugal. Eu me reconheço no outro, eu acolho a resposta e, a partir daí, geramos vida – esse é o ciclo da vida do matrimônio. Os três passos identificados nas três perguntas do consentimento do rito matrimonial para dizer que aquilo que é próprio da natureza do ser humano é reconhecido no sacramento e celebrado”, frisou o assessor, que teve como fundamento de sua palestra na Teologia a relação entre Cristo e a Igreja, e os documentos da Igreja Humanae VitaeAmoris Laetitia e Familiaris Consortio, além do próprio rito matrimonial.

A noite que contou com uma celebração de abertura repleta de símbolos, como velas e cactos, foi encerrada com um jantar no restaurante Petrus, onde o grupo Eco di Venezia, Roba da Ciodi e Carnevale di Venezia recepcionaram com muita animação os congressistas.

Na manhã de sábado (29), a celebração inicial recordou os Santos Arcanjos lembrados pela Igreja neste dia, com a entrada de crianças vestidas de anjos levando consigo os girassóis, flor símbolo do Setor Vida e Família. As celebrações contaram sempre com a representação de delegados de cada diocese de Santa Catarina.

O tema central do congresso começou a ser refletido na manhã de sábado, conduzido pelo assessor nacional da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família e secretário executivo na Comissão Nacional da Pastoral Familiar, padre Jorge Alves Filho. “Nós falamos sobre o Evangelho da Família, alegria para o mundo. O que nos motiva, a partir da Amoris Laetitia, a sermos verdadeiros anunciadores desta alegria, mas, sobretudo, vivendo na família a beleza do ser família. O Papa Francisco, nessa exortação, nos convida a sermos família, vivendo a nossa experiência, também nas nossas dificuldades, nas nossas limitações. Vencendo tudo aquilo que, infelizmente, quer tirar de nós a experiência bonita do ser família. Para isso, é preciso que agentes de pastoral, sacerdotes, bispos, diáconos, tenhamos a consciência de que é possível anunciar com alegria este evangelho, mas também criando uma cultura da família, resgatando esta cultura da família, para que as famílias possam experienciar cada vez mais, na sua vida, aquilo que é o Evangelho, aquilo que é a união com Deus e fazer com que esse Deus seja conhecido. O mundo precisa do exemplo das famílias. Nós como família, precisamos estar preparados a darmos, ao mundo, este nosso exemplo”, ressaltou padre Jorge, que representou o presidente da CEPVF, Dom João Bosco.

O assessor também conduziu uma segunda palestra, onde falou sobre os desafios da Pastoral Familiar. “O mundo está mostrando a ideologia de gênero, mas nós não estamos mostrando a família. Temos que deixar a família falar! Se a família anuncia o Evangelho, precisa perceber que é alvo da ação pastoral da Igreja, mas que ela também é sujeito dessa ação. Qual o desafio da Pastoral da Familiar? O grande desafio da Pastoral Familiar é entender o que é a Pastoral Familiar! Pastoral Familiar não é uma pastoral de casais, é uma pastoral de agentes”, destacou ainda o assessor, que convidou seminaristas, padres, religiosas e leigos solteiros e casados a subirem o palco como agentes da pastoral.

A terceira palestra do sábado foi ministrada pelo casal de assessores pedagógicos do Setor Pré-Matrimonial da Pastoral Familiar, André e Karina Parreira. “O Setor Pré-Matrimonial é uma das grandes preocupações da Igreja e uma das três frentes de trabalho da Pastoral Familiar. Com o Setor Pré-Matrimonial, ela espera chegar a toda e qualquer realidade matrimonial, sendo que ele não se destina unicamente a quem vai casar, mas é um horizonte vocacional para o indivíduo que vai casar, permanecer solteiro ou seguir a vida consagrada”.

Conforme André e Karina, a preparação remota para o matrimônio deveria se tornar cada vez mais firme na vida paroquial, não ficando restrita aos encontros de preparação para o matrimônio, mas também por meio do apoio às gestantes, na catequese para os sacramentos, encontros de namorados, formação de jovens, semanas da vida e da família.

A última reflexão da manhã foi sobre o tema “Afetividade e Sexualidade”, com a assessoria da professora Jéssica Lima e do diretor do Colégio Murialdo, padre Vilcionei Baggio. “Nós trouxemos a realidade daquilo que as crianças e adolescentes vivem. O nosso objetivo foi fazer um bate papo com os pais sobre esta questão para mostrar as dificuldades, os desafios que eles passam e também, através disso, apontar caminhos para que nós, adultos, possamos conduzir esses jovens, essas crianças através do caminho do Senhor. Mostrar o caminho lindo dos afetos e do nosso próprio corpo na vivência pessoal, comunitária, para também conduzir os outros num caminho bonito de vida”, disse padre Vilcionei.

Ao final da manhã de sábado, os congressistas participaram da celebração eucarística, presidida por dom Jacinto Inacio Flach e concelebrada por dom Wilson Jönck e dom João Francisco Salm, Bispo de Tubarão e presidente do Regional Sul 4 da CNBB, além de diversos padres. A missa foi celebrada na igreja matriz São Marcos e contou com a mensagem de dom Salm ao final da celebração, que recordou a exortação do Papa Francisco. “A Alegria do Amor que se vive nas famílias é também o júbilo da Igreja. Apesar de tudo, ‘o desejo da família permanece vivo nas jovens gerações’. Como resposta a este anseio, ‘o anúncio cristão que diz respeito à família é verdadeiramente uma boa notícia’. Sobre o fundamento da aliança de amor e fidelidade, da qual viveu a Sagrada Família, cada família pode tornar-se uma luz na escuridão do mundo”.

No início da tarde de sábado, após o Recital da Imigração: Histórias de Vidas, com cantos italianos entoados por neovenezianos, houve a primeira palestra da tarde de sábado, conduzida pelo frei Marcos Roberto Huk, da Diocese de Criciúma.

“Um congresso sobre família… É claro que surge essa perspectiva do namoro, o estágio antes do Matrimônio. O Papa Francisco fala da situação pré-matrimonial e pós-matrimonial. O que a gente precisa e o que esse congresso veio despertar é exatamente a consciência de que nós precisamos conversar mais sobre namoro cristão, entender que o namoro cristão é uma forma de vida. Os estudantes de medicina estudam por cinco anos e não estão autorizados a praticar a Medicina. Entendamos assim o namoro: uma faculdade onde se aprende, com todo o respeito do corpo, ou seja, com a castidade, mas se aprende o amor para então exercitar o amor pós-matrimônio.Nós estamos muito tímidos ainda no assunto. Aqueles que buscam viver o namoro cristão, lutam contra situações biológicas, psicológicas, inclusive religiosas e não tem aonde colocar os pés, porque nós somos tímidos, não falamos mais! O intuito da minha fala nesse congresso foi, exatamente, jogar luz e creio que a mensagem foi alcançada. Na saída, algumas pessoas vieram dar testemunho. Acho que se sentiram tocados para aprofundar o assunto, que é um pedido da exortação do Papa Francisco. Temos que levar a sério também essa parte pré-matrimonial”, disse frei Marcos.

O Setor Pós-Matrimonial também foi tema de palestra, conduzida, em seguida, pelos assessores pedagógicos do Setor Pós-Matrimonial da Pastoral Familiar, Ronaldo e Tatiana de Melo. “O Setor Pós-Matrimonial é um dos três setores da Pastoral Familiar, que tem também o Setor Pré-Matrimonial, e o Setor Casos Especiais. O Setor Pós-Matrimonial se preocupa com todo trabalho pastoral de acompanhamento, de formação e fortalecimento do casal, a partir do sacramento do Matrimônio. A partir daquele momento, a Igreja continua preocupada em acompanhar o dia a dia dessa nova família que se formou,seu relacionamento, como vai ser a convivência, a vinda dos filhos, como é a vinda do primeiro filho chegando e mudando aquela realidade familiar, como passa a ser a realidade do marido, da esposa, enquanto pai, enquanto mãe, a educação, a formação daquela família e todo o caminhar que acontece com esse conjunto familiar – pai, mãe e filhos – a partir do sacramento do Matrimônio”, explica Ronaldo Melo.

Na sequência, o casal trouxe à reflexão dos congressistas outra palestra, em que falaram sobre o tema “Recém Casados”. Conforme Melo, hoje é muito perceptível a realidade de casais que se casam e em pouco tempo se separam. “É uma atenção pastoral que também precisa ser dada, principalmente nesse momento, onde tudo é novo para essa realidade familiar. Temos que estar atentos para que esses recém casados possam dar os primeiros passos, sabendo das dificuldades e dos desafios que virão. Uma coisa é você viver sozinho enquanto solteiro, solteira, mas a partir do momento em que juntam a realidade familiar, o que a Igreja propõe para eles, de receber os filhos, de fortalecer essa união? É uma preocupação que a Igreja tem, principalmente, com recém casados, para que possam dar esses primeiros passos fortalecidos, cientes daquilo que assumiram e daquilo que podem fazer enquanto família”, acrescenta Melo.

A “Educação dos Filhos” também foi tema de palestra, conduzida pelos assessores pedagógicos do Setor Pré-Matrimonial da Pastoral Familiar, André e Karina Parreira. “Nós abordamos a educação dos filhos do ponto de vista cristão, sobre a missão de educar os filhos, que é um trabalho também de santificação para os pais, como preveem os documentos apresentandos, trechos do Catecismo, da Amorislaetitia, como caminho para que os pais se santifiquem e também para que tornem o mundo melhor, apresentando bons filhos, filhos dispostos, preparados para fazer a diferença no mundo também. Não só os filhos que vão receber algo do mundo, como a maioria dos pais reclamam, mas, invertendo a ótica, como aqueles que podem ser agentes de mudança do mundo”, pontua Parreira, que, junto a esposa, abordou questões como práticas educacionais em casa, rotina de trabalho.

“Todo o tema foi voltado para a motivação a favor de uma educação que privilegie o trabalho e coisas como respeito, partilha.Nossa palestra tentou privilegiar o assunto da educação para o ser, ao invés da educação para o ter. Como podemos trabalhar a educação das crianças também para o trabalho, para a colaboração em casa, uma educação com austeridade, com poucos benefícios financeiros e mais valor ao trabalho, à conquista, a partir do nosso testemunho, como educamos nossos sete filhos”, acrescenta Parreira.

O Setor Casos Especiais foi o tema abordado pelo casal Cláudio e Maria do Rosário Silva, assessores pedagógicos do Setor Casos Especiais da Pastoral Familiar. “Falar do Setor Casos Especiais é, para nós, motivo de muita gratidão pela acolhida fraterna da Igreja às realidades que são colocadas à nossa frente. O Setor Casos Especiais da Pastoral Familiar é um setor, cada dia mais, urgente e necessário. É um trabalho de misericórdia, de acolhida fraterna que não pode sacrificar a verdade, porque a verdade, por si mesma, ela é misericórdia, liberta e salva! São atribuições desse setor, acompanhar as diferentes realidades das famílias de migrantes, mães e pais solteiros, famílias com filhos deficientes, filhos envolvidos com drogas, famílias distanciadas da Igreja, matrimônios mistos, atenção especial aos idosos, viúvos, casais que vivem uma nova união, separados sem nova união, pessoas com tendência homossexual, alcoolismo na família. Realmente, é um trabalho que exige abertura de coração, exige acolhida fraterna e a compreensão de que Jesus é o Bom Pastor e Ele não deixa ninguém de fora. Essa é a grande responsabilidade da Pastoral Familiar, que não é um movimento de casais, mas é um trabalho que envolve todos os agentes missionários da família e o Papa Francisco tem nos ensinado que a misericórdia de Deus ela é infinitamente maior do que o nosso pecado. E as pessoas que se descobrem doentes da alma, elas devem encontrar na nossa Igreja portas abertas, não fechadas; acolhida, não julgamento ou condenação; ajuda e não marginalização; e esta tem sido a nossa experiência, ao longo dos 20 anos que atuamos na Pastoral Familiar, quando fomos acolhidos no dia 27 de setembro de 1998, no 1º Encontro Bom Pastor da nossa Diocese de Uberlândia (MG), na Paróquia São Judas Tadeu. De lá para cá, nós não paramos mais e temos nos debruçado sobre os documentos pontifícios, o magistério da nossa Igreja, todas as orientações dos nossos bispos, à luz, sempre, da Palavra de Deus. Falar do Setor Casos Especiais, para nós é muito gratificante e também uma responsabilidade que cada dia mais aumenta, por conta das realidades que são colocadas à nossa frente. Pedimos a Jesus, o Bom Pastor, que nos capacite, nos conduza, nos ilumine, para que possamos ser, verdadeiramente, missionários das famílias, acolhendo a todos sem distinção!”, pontua a palestrante Maria do Rosário.

Mais tarde, o tema de reflexão foi “Pessoa Idosa: na família, na sociedade e na Igreja”, conduzido pelo Doutor em Psiquiatria e Antropologia, Antônio Mourão Cavalcante e pela Doutora em Gerontologia Maria Zilma Barbosa Gurgel Cavalcante. “A importância de se reinventar como casal para manter a alegria de ser casal. Porque se você não se reinventa em cada ciclo do casamento, você fica na rotina da mesmice, então vem o tédio, vem a tristeza que nada muda, continua sempre a mesma coisa. É preciso quebrar essa rotina com criatividade e com consciência: o que quero e por que quero realizar coisas novas para revitalizar nosso amor, nosso companheirismo, nossa alegria de viver. É importante que o casal pare, pense, reflita mesmo e, juntos, encontrem o que podem trabalhar no novo ciclo para crescerem como pessoas e ter, realmente, a alegria de ser casal”, enfatizou Dra. Zilma.

À orientação da esposa, Dr. Mourão completou: “Dentro do casal nós temos funções. Uma é a de ser marido e mulher – casal – é função conjugal. Essa é por toda a vida ou até que a morte os separe. E nessa, os momentos são diferentes. Quando nós nos casamos, éramos jovens, sozinhos, depois vieram os filhos, depois amadurecemos, depois construímos a família, os filhos, a casa, o trabalho, depois, passou o tempo e nós nos aposentamos. Hoje, estamos sozinhos porque os filhos se foram também fazer família. Essa função conjugal tem que mudar com o tempo. Ela vai mudando, porque não somos os mesmos. A segunda função é a função parental, é sermos pai e mãe desses filhos e, aí, chamamos muito a atenção para a ideia da autonomia dos filhos. Nós não podemos torná-los eternamente dependentes de nós. Claro que continuamos a manter os vínculos, a nos encontrarmos, a realizar festas, sentimentos, emoções, mas cada um cuidando da sua vida. Muitos pais, talvez com medo ou por ter pouco a função conjugal, investem demasiado só e unicamente na função parental. Quando os filhos vão embora, eles se encontram com um estranho ou uma estranha dentro de casa, e perdidos, e, muitas vezes, outras derivações fora da família e fora do casal. Mas isso tudo pode ser vivido com muito entusiasmo, com muita vida. Nós queremos dizer que, enquanto católicos, nós somos portadores da vida, da esperança e a família é o lugar para vivermos isso em intensidade”, destacou Dr. Mourão.

A Sacralidade da Vida Humana foi o último tema da noite de sábado, abordando a questão do suicídio, com auxílio das psicólogas Cecília Urbina e Andréia Gonçalves, da Sociedade de Psicologia de Criciúma. As profissionais trouxeram à tona a realidade das mortes em Criciúma e região, apresentando o município como terceiro no ranking em Santa Catarina. Conforme as psicólogas, o suicídio envolve diretamente, ao menos, seis pessoas por caso, de maneira emocional ou econômica. Em Criciúma, a maioria dos casos aponta masculinos com idade entre 35 e 60 anos. Cecília e Andréia partilharam a respeito do projeto criado em 2014, com diversos parceiros, intitulado Rede de Proteção à Vida. “O papel das igrejas na prevenção é fundamental. Vocês são agentes para cuidar dos outros e acreditamos que vocês possam nos ajudar nisso”, enfatizaram as profissionais.

O segundo dia do Congresso foi concluído com um jantar típico no salão da Paróquia São Marcos, abrilhantado pelo Coral Infanto-Juvenil Pequenos Peregrinos de Caravaggio e por um momento cultural mariano.

A manhã de domingo, último dia do Congresso, iniciou com uma celebração que recordou o Dia da Bíblia e foi precedida por mais uma palestra que abordou a Sacralidade da Vida Humana, desta vez, com foco sobre a questão do aborto, conduzida pela cantora católica e missionária Pró Vida e Pró Família, Zezé Luz. Maria José da Silva – Zezé – atua há 12 anos no apostolado pró vida. Natural da Paraíba, tem 51 anos de idade e mora no Rio de Janeiro há 30. Zezé relatou toda a sua história de vida, quando, aos 19 anos, foi vítima de violência sexual, ficou grávida e praticou aborto. Convertida, hoje Zezé luta na defesa da vida em companhia da cantora Elba Ramalho, aconselhando mulheres em situação de vulnerabilidade a não praticarem o aborto.

“Entrei na missão popular da Igreja para estudar e rezar. Só queria anunciar que Jesus estava vivo. Conheci o movimento em defesa da vida na Arquidiocese do Rio de Janeiro. Na época, tramitava no Congresso projeto de lei para descriminalização do aborto até os nove meses de gestação. Deus sonhou com você, te desejou e o Espírito Santo, num sopro de vida, gerou você, gerou a mim, gerou a nós. Hoje, dizemos às mulheres o quanto a vida delas é importante para Deus, que somos gestados e sonhados por Deus. Nós combatemos as ideologias e não as pessoas. A Pastoral Familiar precisa ajudar a combater esta cultura de morte”, disse Zezé.

Novamente o casal Ronaldo e Tatiana Melo, assessores pedagógicos do Setor Pós-Matrimonial da Pastoral Familiar, retornaram ao palco do teatro para falar, desta vez, sobre “O outro lado da Ideologia de Gênero”. “Para mostrar às pessoas o nosso comprometimento, que todos nós devemos ter, com a defesa da vida humana, da sexualidade, da dignidade humana e da família, que está vindo para nós como uma imposição de que, na verdade, o sexo não existe, não existe diferença entre homem e mulher, que tudo é uma construção social, que são jogos de poder. Mas que, na verdade, nós, como famílias, devemos resgatar a beleza da diferença sexual – masculino e feminino – e sermos agentes, em primeiro lugar, nos formando para conhecer as reais intenções desse tema que visa destituir a autoridade da família, a beleza e a sacralidade do matrimônio, união entre homem e mulher e a criação dos filhos. E também de cada um de nós nos comprometermos enquanto defensores da pessoa humana e da família, como instituição, não só divina, como nós cremos, mas uma instituição natural, que é fundamental para a continuação, para o equilíbrio da vida social”, destacou Tatiana Melo.

O Instituto Nacional da Família e da Pastoral Familiar – o INAPAF – foi o projeto apresentado na última palestra do Congresso, pelos coordenadores nacionais da Pastoral Familiar, Luiz e Kathia Stolf. Ao todo, são três fases de oito módulos, com 24 temas e que tem proporcionado bons resultados em diversos lugares, como na Arquidiocese de Joinville e na Diocese de Criciúma. “A questão do trabalho e da formação, que hoje é muito importante em todos os sentidos e quando trabalhamos, como agentes que somos, temos essa responsabilidade de estar repassando informação e formação. Tem que haver uma formação vinda de uma base que é a nossa Igreja, aquilo que o magistério da Igreja nos pede, portanto não podemos falar daquilo que pensamos, achamos ou deduzimos, mas aquilo que a Igreja nos pede. Esse trabalho que a Pastoral Familiar nos oferece, esse programa de treinamento que é o INAPAF, tem uma grande base para os agentes em todos os níveis. Hoje trabalhamos com três fases e estamos pensando numa quarta fase, que trabalharia mais a questão da bioética, a questão da vida. A gente motiva e desafia para que as pessoas busquem esta formação integral, que trabalha desde a pessoa, a sua pastoral, seu movimento, e dar uma formação integral para todo e qualquer trabalho que a pessoa queira exercer no ambiente dentro da comunidade, na Igreja”, explica Luiz Stolf.

“A nossa palestra visa despertar nas pessoas que ainda não conhecem, porque a gente sabe que ainda tem regionais que ainda não se abriram para a formação, usam outros materiais e nós temos material próprio do INAPAF que pode ser trabalhado na comunidade, na paróquia e também pessoalmente. Você pode se inscrever, pedir o material e fazer a formação. A gente quis despertar no povo esse gosto pela formação. Para sair para trabalhar, temos que saber o que vamos falar”, pontua Kathia.

Ao final da manhã de domingo, o bispo referencial, Dom Wilson, proferiu a mensagem de encerramento do encontro e anunciou a Diocese de Rio do Sul como a próxima a acolher a décima edição do congresso, que será realizada em 2021. Em sua fala, Dom Wilson conduziu o grupo a uma reflexão sobre a perseverança e a humildade no trabalho pastoral, recordando as atitudes de Lucifer, Eva e de Jesus Cristo, este último, que esvaziou-se a si mesmo e salvou a humanidade inteira.

“Esse esvaziar-se, que é atitude de humildade, de simplicidade, é que nos humaniza e cria o clima bonito dentro de casa, aquele clima de família que todos nós desejamos, quando todo mundo se dispõe, todo mundo tem um coração simples, todo mundo acata o parecer do outro. Quando se consegue isso, se consegue uma coisa muito preciosa e nós somos chamados a, de alguma forma, viver isso nas nossas famílias: ter esse coração simples e aprender o que Deus quer nos falar. E a partir disso, propor, também, aquilo que nós queremos fazer. Todo esse conteúdo rico e bonito que vemos desde o primeiro dia até hoje e foi bastante contundente, vocês veem que é, exatamente, um querer fazer do jeito que se bem entende. Nós somos criaturas de Deus e devemos ver o que Deus quer de nós. Ter essa atitude de acolhida para o que Deus quer fazer em seu caminho. Queremos construir uma bela família? Vamos ver o que Deus quer de vocês, por que Deus escolheu vocês dois para viverem juntos e formar uma família. Este é o caminho”, disse Dom Wilson, de modo especial aos casais agentes da Pastoral Familiar.

Participaram do Congresso Regional, entre as centenas de agentes, o casal coordenador regional da Pastoral Familiar, Cleuton e Simone Gomes; o assessor regional da Pastoral Familiar, padre Josué de Brito e o casal coordenador diocesano, Edson e Maria de Lourdes Zanatta. Do município de Nova Veneza, estiveram presentes o prefeito Rogério Frigo e sua esposa Sidnei; o vice-prefeito Sérgio Spillere e sua esposa Vera, além do vereador César Pasetto, autor da proposição da lei que instituiu a Semana Municipal da Família.

Após a fala de Dom Wilson, os congressistas celebraram o “Momento Semear”. “O Momento Semear é a certeza de que, desde o início dos tempos, Deus, o Divino Semeador, criou e continua a criar a maravilhosa obra do universo. Nela, semeou sementes de vida e de amor, sementes de partilha e de fraternidade, sementes de harmonia e de paz. Coroou a Criação com sua obra prima, a semente humana. Quando a pessoa se coloca à disposição da ação de Deus, ele a modela, a aperfeiçoa e a torna protagonista na implantação do Reino. “A terra do coração, trabalhada pelo Amor Divino, é sempre boa e pronta para acolher e transformar as sementes”. Regidos pela vontade de Deus, o IX Congresso da Pastoral Familiar foi sendo rezado e cuidado, nos mínimos detalhes, como quem cultiva um jardim de relações amorosas e fraternas. O terreno, em toda área pastoral de Nova Veneza, vem sendo preparado há meses, através da ação civil, envolvendo de forma ecumênica toda a sociedade e as famílias venezianas, bem como da ação missionária de visitação às famílias, com a oração e a bênção dos lares. Desde o primeiro momento, quando padre Joel apontou Nova Veneza como lugar escolhido para o Congresso, imaginávamos este palco como a Sala de Visitas que acolheria a família catarinense, aqui representada pelo Regional Sul 4. O Santo Espírito suscitava mais… era necessário levar o Evangelho da Família para todos. E assim se fez! Evangelizar sem fronteiras, fazer acontecer a Igreja em Saída Missionária. Os padres abraçaram a proposta de visitação as famílias. O Poder Público, com a aprovação unânime da Proposição de Lei que institui a Semana da Família no Calendário Anual de Eventos do Município de Nova Veneza, permitiu muito mais espaços. Nós vamos voltar para nossas casas e aqui ficará um legado histórico. As sementes foram lançadas! O futuro agradece as sementes lançadas! A intensidade desta experiência nos dá a certeza de que não estamos sozinhos. Assim também são as famílias: navegamos no lago da vida com estilo próprio, porém acompanhados pelo olhar cuidadoso de Deus. O equilíbrio do barco dependerá dos gestos e atitudes dos tripulantes e da fé no barqueiro, que é Jesus!”, disse a coordenadora do Setor Vida e Família e da Pastoral Familiar da Diocese de Criciúma, Maria de Lourdes Zanatta.

Após a celebração de envio das velas e cactos para todas as dioceses do Regional Sul 4 da CNBB, e distribuição das sementes de girassóis a todos os congressistas, houve um momento de homenagens aos casais coordenadores da Pastoral Familiar Regional e da Diocese de Criciúma. O prefeito e a primeira dama de Nova Veneza também foram homenageados com a apresentação de um grupo de crianças da rede municipal de ensino.

O Congresso foi encerrado com a celebração da Santa Missa, com abertura da Semana Nacional da Vida, presidida pelo Arcebispo de Florianópolis e referencial da Pastoral Familiar, Dom Wilson Tadeu Jönck, na igreja São Marcos. Durante todo o encontro, no Palácio das Águas, foram coletadas assinaturas contra a aprovação do aborto no Brasil. Durante a missa, padre Jorge Alves Filho convidou a todos para participarem da peregrinação em defesa da vida e da família, nos dias 25 e 26 de maio de 2019.

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Fotos e texto por assessoria de Imprensa da Diocese de Criciúma.