“Para nós cristãos, a Palavra é a ternura de Deus que se tornou letra”, afirma dom Peruzzo sobre o tema central da 58ª AG CNBB

“É bíblica a frase ‘Nada de novo debaixo do sol’ (Ecl 1,10). Também não é novo o nosso tema da Assembleia. Ele sempre vai e volta por que a Palavra na tradição bíblica é também Pessoa”. – Com essas palavras o arcebispo de Curitiba (PR) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética, dom José Antônio Peruzzo, iniciou sua fala na tarde desta segunda-feira, 12 de abril, durante a primeira coletiva de imprensa da 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

O tema central da Assembleia diz respeito ao Pilar da Palavra proposto pelas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE 2019-2023). Mesmo sem a possibilidade de votação de um documento, os bispos refletiram sobre o texto “Casas da Palavra – Animação bíblica da vida e da pastoral nas comunidades eclesiais missionárias”.

Com o intuito de aprofundar o tema central da Assembleia, dom Peruzzo utilizou a analogia de um jovem que escreve uma carta para uma jovem. “Quando a moça recebe a carta, lê e relê muitas vezes porque a palavra cria proximidade entre quem escreveu e quem lê. Algo assim, a título de exemplo, nos ajuda a ilustrar que o tema da Palavra nunca terá sido suficientemente esgotado”, disse o arcebispo.

De acordo com dom Peruzzo, o tema da Palavra sempre volta aos estudos da Igreja por que ele nunca se esgota. Como exemplo ele citou que em 2007 os bispos da América Latina aprofundaram o tema no Documento de Aparecida, em 2008 , e que o Papa Bento XVI convocou uma Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos sobre a temática e a própria CNBB, em 2012, lançou o Documento nº 97 – ‘Discípulos e Servidores da Palavra de Deus na Missão da Igreja’. “Para nós cristãos, a Palavra é a ternura de Deus que se tornou letra. Então queremos partilhá-la. É constitutivo da nossa fé compartilhar o que cremos e reconhecemos como fonte de vida”.

Encaminhamentos sobre o tema central

Dom Peruzzo contou durante a coletiva que, na manhã de hoje (12), foi apresentado ao episcopado brasileiro um texto-mártir que possivelmente será aprovado como um Estudo da CNBB. Com o título “E a Palavra habitou entre nós – Animação Bíblica da Pastoral a partir das comunidades eclesiais missionárias”, o texto poderá ser aprovado como um documento oficial na próxima Assembleia presencial. É estatutário que os documentos oficiais da Conferência sejam aprovados em Assembleias no formato presencial.

Segundo o bispo, com o Estudo aprovado, haverá dois tempos: “um aprofundamento com os cristãos leigos pelo brasil afora e depois, na próxima Assembleia, acreditando que será presencial, conferir uma aprovação mais consistente. Teremos mais tempo para difundir o que agora é um objeto de estudo. Vamos assumir as reflexões, promover todo um processo de maturação do pensamento, reflexão e afeição pela Palavra. Não é apenas um documento redigido que conta, mas também o processo de preparação e participação.”

“Queremos que a Palavra de Deus seja sempre mais desejada pelo povo”, afirmou dom Armando Bucciol

Tornar a Palavra de Deus cada vez mais conhecida e amada. Este é um dos desejos do episcopado brasileiro reunido na 58ª Assembleia Geral da CNBB (58ª AGCNBB), que teve início nesta segunda-feira (12). “Nosso desejo é poder nutrir sempre mais o povo com a Palavra de Deus”, afirmou o bispo da diocese de Livramento de Nossa Senhora (BA), dom Armando Bucciol, durante a primeira coletiva de imprensa.

De acordo com dom Armando, no documento apresentado na manhã deste primeiro dia de assembleia, há um capítulo que trata dos diversos tipos de terreno, nos quais a Palavra é semeada, tendo como pano de fundo a parábola do semeador. Entre estes terrenos está a Palavra de Deus nos sacramentos.

“O Concílio recomendava que nenhum sacramento seja celebrado sem que escutemos a Palavra de Deus; até o sacramento da penitência, da reconciliação deve ser acompanhado da escuta da Palavra, para que essa escuta renove em nós o ardor e o amor. O grande evento do Concílio foi devolver à Igreja Católica a Palavra de Deus depois de séculos em que ela ficou sem receber o devido destaque, a devida atenção”, destacou.

A Palavra de Deus também deve ser semeada no compromisso e na vida missionária, na iniciação à vida cristã, na piedade popular, na família e na juventude, no ecumenismo e no diálogo inter-religioso, nos meios de comunicação e na formação de ministros ordenados. “A família é o sujeito fundamental, é o lugar por excelência onde a Palavra de Deus deve ser ouvida, vivida e transmitida. Neste tempo de pandemia, muitas famílias redescobriram a Palavra de Deus como alimento”, disse dom Armando.

O prelado também falou sobre as homilias, para que os padres e os bispos tomem consciência desta tomada de palavra, que é delicada, complexa e complicada. “Eu sugiro que todos leiam a Evangelii Gaudium, do Papa Francisco. Eu acredito que homilias de 40 minutos são um abuso gravíssimo. Me decepciona ver pregadores, inclusive nas TVs católicas, que ignoram a Palavra, pulam de um lado para o outro no altar e contam piadinhas. É um escândalo. Por isso, católicos, leigos e leigas, sejam muito francos com os seus párocos e até mesmo com os seus bispos”, disse.

Entre as perguntas realizadas pelos jornalistas que acompanharam a coletiva de imprensa, uma destacou a necessidade da Pastoral da Escuta, considerada importantíssima para dom Armando, que destaca, sobretudo, a necessidade da escuta, de modo especial, da juventude. “Nós devemos multiplicar mentes e corações que saibam, de verdade, escutar. É importante que multipliquemos dentro da Igreja e da sociedade pessoas e psicólogos, médicos, profissionais das várias áreas, e também dentro da Igreja, a habilitar pessoas que dediquem tempo a escutar, com carinho, os anseios e as as angústias das pessoas”, afirmou.

Por CNBB.