Três ônibus que para muitos traziam apenas migrantes venezuelanos. Mas foi quando as portas se abriram que se pode perceber que dentro deles haviam sonhos, esperanças e o desejo de um recomeço em terras distantes daquelas que estão fincadas suas raízes. Através do Programa Pana, a Cáritas Brasileira Regional Santa Catarina, acolheu na noite de ontem, 20 de dezembro, 102 migrantes venezuelanos vindos do estado de Roraima, no norte do país.

Pana é uma palavra da língua da etnia indígena Warao e significa amigo, parceiro. Foi com esse sentimento de amizade que o migrante Gerson Guadalupe descreveu a acolhida realizada pelos fieis da paróquia Sagrados Corações na cidade de São José (SC), região da Grande Florianópolis. “Estava curioso para saber como seria a recepção. Confesso que estava com medo pela minha família. Estou muito feliz, e esse é meu sonho aqui no Brasil, trabalhar, dar estudo aos meus filhos e sorrir”, disse Gerson acompanhado pela esposa e os filhos.

Os 102 migrantes venezuelanos encaminhados para Santa Catarina chegaram na cidade de São José por volta das 22h30 em três ônibus acompanhados pelo Exército Brasileiro. Um total de 82 permaneceram na paróquia Sagrados Corações onde foram acolhidos com um jantar preparado por voluntários. Os outros 20 foram encaminhados para Tubarão (SC), onde existe outro centro de apoio do Programa Pana.
Os migrantes se inscreveram de forma voluntária para viajar, e antes receberam as vacinas contra sarampo, caxumba, rubéola, febre amarela, difteria, tétano e coqueluche. Passaram por regularização migratória junto à Polícia Federal, seja por meio de solicitação de refúgio ou de residência temporária e receberam documentação como: Carteira de Registro Nacional Migratório (CRNM), Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) e a Carteira de Trabalho.

Em sua maioria, os migrantes acolhidos na noite de ontem em São José, vieram acompanhados de suas famílias. É o caso da Yolmarys Bustamante, seu esposo Jesus Belisário e os dois filhos do casal, Jean Franco de dez anos e Anthony Belisário de cinco anos. Professora de Educação Física na Venezuela, Yolmarys estava com a família em Roraima há cinco meses e disse estar muito feliz com a oportunidade de recomeçar junto com eles em Santa Catarina. “Eu e meu esposo estamos ansiosos para começar a trabalhar. Queremos dar uma qualidade de vida melhor para nossos filhos e estamos muito agradecidos pela acolhida”, disse a migrante carregada de emoção.
Yolmarys relatou que alguns familiares venezuelanos já migraram para outros estados do Brasil. Ela disse ainda que deixou um irmão na fronteira que não pode embarcar por ainda não estar com a documentação completa, mas que deseja revê-lo em breve.
Solidariedade

Cerca de 150 voluntários foram mobilizados pelo Programa Pana na acolhida aos migrantes. Muitos deles estavam ontem no salão da paróquia Sagrados Corações, onde foram acolhidos parte dos migrantes. Eles se dividiram no preparo dos alimentos, na organização e limpeza dos apartamentos que foram alugados pelo Programa e na conquista de doações de móveis e eletrodomésticos para a mobília dos novos lares.
Padre Alceoni Berkenbrock, pároco da paróquia dos Sagrados Corações, disse estar muito feliz e comprometido na acolhida dos “novos amigos”. “Nossa paróquia já desenvolve vários projetos com migrantes. Acolher nossos irmãos venezuelanos é um novo desafio. Na nossa essência de cristãos, que temos nossa fé na família migrante do menino Deus, nos abrimos sempre ao compromisso de acolher, colaborar e indicar caminhos”, declarou.
Na oração para abençoar os alimentos do jantar preparado pela comunidade, padre Alceoni destacou que independente da religião e crenças de cada migrante, aquele momento era de agradecer pela nova oportunidade que todos estavam recebendo.
Programa Pana
O Programa Pana vai contribuir direta e indiretamente com a integração de migrantes e brasileiros em sete capitais do país. Ao todo, as iniciativas do Programa devem alcançar 3.500 pessoas entre migrantes venezuelanos e de outras nacionalidades, além de brasileiros. O ponto de referência para o Programa é a Casa de Direitos que em Florianópolis está localizada na rua Deputado Antônio Edu Vieira, 1524, no bairro Pantanal.

A Casa de Direitos é composta por uma equipe de profissionais, dentre eles psicóloga e assistente social, que darão prosseguimento no atendimento aos migrantes e na integração local.
Gelson Nezi, coordenador do projeto e secretário executivo da Rede Cáritas em Santa Catarina, lembrou da importância do Programa Pana para esse difícil momento migratório que vive a América Latina e o mundo. “Agora com a presença dos migrantes em nossas cidades catarinenses, além das generosas doações, a comunidade católica e a sociedade em geral é convocada a colaborar no processo de inserção social e no mundo do trabalho”, destacou.
Abaixo, confira o vídeo do momento da chegada e o jantar dos migrantes venezuelanos em Santa Catarina: