Nos dias 21 e 22 de outubro de 2025, o Regional Sul 4 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) promoveu o Seminário Regional sobre a Campanha da Fraternidade 2026, realizado de forma on-line. Com o tema “Fraternidade e Moradia” e o lema bíblico “Ele veio morar entre nós” (Jo 1,14), o encontro reuniu cerca de cem participantes das dioceses e arquidioceses de Santa Catarina, com o objetivo de refletir sobre a moradia como direito humano e expressão da dignidade e da fé cristã.

Na fala de abertura, padre Antônio Madeira, secretário executivo da CNBB Sul 4, destacou que a Campanha da Fraternidade é um convite à ação concreta da Igreja diante dos desafios sociais.

“A moradia não é uma mercadoria, mas uma expressão da dignidade humana, extensão do corpo e santuário da família. Onde uma pessoa tem um teto digno, ali Deus habita”, afirmou o padre, ao motivar os participantes a assumirem um compromisso evangélico com os mais vulneráveis.

Durante a primeira noite do encontro, o professor Elson Manuel Pereira, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), apresentou uma análise detalhada sobre o contexto habitacional no Brasil e em Santa Catarina. Ele destacou que o déficit habitacional não se deve à falta de moradias, mas à desigualdade na distribuição e ao caráter especulativo da terra e dos imóveis.

“Em Santa Catarina, há mais de 300 mil residências fechadas, enquanto o déficit habitacional é de cerca de 200 mil moradias. Isso mostra que o problema não é a ausência de casas, mas a forma como a moradia é tratada como mercadoria”, explicou Elson.

O professor também ressaltou que a solução do problema habitacional vai além da construção de novas unidades:

“É preciso reorientar a política urbana para o direito à cidade, fortalecer a função social da propriedade e promover o controle democrático do solo urbano. A moradia deve ser vista como bem comum, não como ativo financeiro.”

Na sequência, Evaniza Rodrigues, militante da Pastoral da Moradia e integrante da Equipe Nacional da CF 2026, aprofundou a reflexão sobre o tema da campanha, destacando o papel da Igreja na defesa da moradia como um direito fundamental.

“A Campanha da Fraternidade de 2026 é um chamado à conversão social e à mobilização comunitária. Queremos corrigir a visão da moradia como mercadoria e reafirmá-la como direito de todos os filhos e filhas de Deus”, afirmou.

Evaniza também lembrou que a campanha retoma o espírito da CF de 1993, que tinha como tema “Onde Moras?”, e destacou o agravamento da crise habitacional nas últimas décadas.

“Mais de seis milhões de famílias brasileiras vivem sem moradia adequada. A maioria é chefiada por mulheres e pessoas negras. É uma questão que revela o racismo estrutural e a desigualdade social que ainda persistem no país”, observou.

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Dioceses de Santa Catarina apresentam experiências que unem evangelho e compromisso social

O segundo dia do seminário foi dedicado à partilha de experiências e iniciativas concretas já em andamento no Regional Sul 4.

Denis Valim, coordenador das obras sociais da ADPR da Arquidiocese de Joinville, apresentou o trabalho da Casa Santo Egídio, que acolhe pessoas e famílias em situação de rua. O espaço oferece atendimento psicológico, social e capacitação profissional.

“A prioridade deve ser oferecer um teto antes de abordar outros problemas. As pessoas não estão nas ruas por escolha, mas por falta de moradia”, destacou Denis.

José Lima do Amaral, da Diocese de Criciúma, relatou a experiência da Pastoral do Povo de Rua, ainda em fase de consolidação, que já conseguiu garantir moradia e emprego para pessoas em vulnerabilidade.

“O trabalho é lento, mas cada pessoa que sai da rua representa um passo importante. A pastoral busca construir vínculos e oferecer esperança”, afirmou.

Jaqueline Manchein, da Pastoral do Povo de Rua de Palhoça, partilhou a experiência do programa “Moradia Primeiro”, que oferece moradia assistida para famílias e mães jovens em situação de rua, evitando a separação de filhos.

“A maioria das pessoas vai para a rua por rompimento de vínculos, não apenas por dependência química. Nosso trabalho é reconstruir esses laços e oferecer acolhida com dignidade”, explicou Jaqueline.

Os participantes também ouviram testemunhos de vida de Claudir e Ana Maria Costa Santos, pessoas atendidas pelos projetos apresentados. Ambos relataram experiências de superação da vida nas ruas, mostrando a importância da acolhida, da escuta e da oportunidade de recomeçar.

A noite contou ainda com a presença e mensagens de Dom Odelir José Magri, bispo de Chapecó e presidente do Regional Sul 4, e de Dom Guilherme Antônio Werlang, bispo de Lages e referencial da Ação Sociotransformadora. Dom Odelir destacou que a Campanha da Fraternidade é um caminho de fé encarnada e compromisso com a realidade.

“O tema da moradia nos chama a sermos Igreja que acolhe, que escuta e que se compromete com os que não têm onde morar. A casa é sinal de comunhão e espaço de vida”, afirmou o bispo.

Dom Guilherme reforçou que a moradia é um direito humano e cristão, e que a Igreja deve enfrentar o tema com coragem.

“Jesus não tinha onde reclinar a cabeça. A Igreja precisa olhar para essa realidade e agir. A salvação também passa pelo nosso bolso. Precisamos transformar a reflexão em gestos concretos de solidariedade”, disse o bispo.

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O Seminário foi conduzido por Juliana Kades, articuladora das pastorais na CNBB Sul 4. que reforçou o compromisso de cada pastoral e comunidade em ser uma “igreja-casa”, acolhedora e comprometida com aqueles que vivem em vulnerabilidade. A CNBB Sul 4 encerrou o seminário convidando as dioceses a continuar as formações e preparar as comunidades para viver intensamente a Campanha da Fraternidade de 2026.

Matéria: Jaison Alves da Silva | Fotoprints