Os participantes da 57ª Assembleia Regional de Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil Regional Sul 4 (ARP-CNBB), que acorre de 20 a 22 de agosto em Rio do Oeste, Diocese de Rio Sul, Santa Catarina, iniciaram suas atividades do dia 21 com a oração da manhã, as Laudes. Com ela, consagraram o início do dia a Deus, louvando-o e agradecendo por seus dons e bênçãos.
Em seguida, o padre Jean Paul Hansen, assessor da CNBB, conduziu a reflexão sobre as “Convergências entre o Sínodo da Sinodalidade e o Instrumento de Trabalho das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE)”. Ele destacou a confluência entre o documento final do Sínodo, as “Pistas para a Fase de Implementação do Sínodo”, e a 20ª versão do Instrumento de Trabalho das DGAE 2025.
O padre lembrou que o texto da 20ª versão das futuras diretrizes foi aprovado no último Conselho Permanente da CNBB para servir como guia de trabalho em assembleias regionais e diocesanas, já que a Assembleia Geral da CNBB foi adiada devido a morte do Papa Francisco. Ele ressaltou que o documento está em desenvolvimento desde 2021, e sua estrutura não deverá mais ser alterada. Um dos pontos de debate na Assembleia será a validade do texto, historicamente de quatro anos, mas com defesas de períodos de quatro, seis, oito ou dez anos por alguns bispos.
O Conselho também sugere que as novas diretrizes sejam o guia principal para a implementação do Sínodo da Sinodalidade no Brasil. “Em outras palavras, as diretrizes serão o nosso instrumento principal para aplicar o Sínodo, eliminando a necessidade de outro documento. Essa é a principal convergência entre o Sínodo e as diretrizes”, explicou o padre.
Instrumento de Trabalho das DGAE 2025
O Instrumento de Trabalho das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2025 está organizado em seis seções principais para orientar a ação pastoral. O texto começa com a metáfora da “Tenda do Encontro”, apresentando a Igreja como um espaço acolhedor, que se coloca em atitude de “Escuta dos Sinais” para compreender os desafios do mundo atual.
Em seguida, o documento aborda o discernimento e a “Conversão Pastoral”, destacando que a renovação da Igreja se baseia em três pilares essenciais: a Comunhão (uma Igreja sinodal), a Participação (com o senso de pertença de todos os fiéis) e a Missão (o objetivo central da evangelização). Para cumprir essa missão, a seção “Sujeitos da Missão” detalha a importância de diversos grupos, como leigos, crianças, jovens, mulheres, famílias, idosos, enfermos, migrantes, religiosos e ministros ordenados e leigos.
A quarta parte, “Compromissos Sinodais”, elenca ações práticas para promover a sinodalidade, como a atuação dos conselhos pastorais e econômicos, os organismos do Povo de Deus, projetos missionários, a comunicação, o ecumenismo e a educação. Por fim, a seção “Caminhos da Missão” sugere quatro grandes eixos para a evangelização: a Iniciação à Vida Cristã; a formação de Comunidades de Discípulos Missionários; a valorização da Liturgia e da Piedade Popular e o Cuidado das fragilidades, que inclui tanto a atenção aos mais vulneráveis quanto o zelo pela “Casa Comum”.
A essência da sinodalidade: serviço e escuta
De acordo com Jean Paul, em sua essência, um dos mais preciosos legados da última sessão conciliar do Sínodo sobre a Sinodalidade é o próprio conceito de sinodalidade. Ela se baseia no sensus fidei (o sentido da fé) e no consensus fidelium (o consenso dos fiéis), o que evita uma separação rígida entre a Igreja que ensina e a Igreja que aprende.
O padre enfatizou que a sinodalidade não apenas ajuda a entender o ministério hierárquico, mas também reforça que a única autoridade para os discípulos e discipulas de Jesus é a do serviço, e o único poder é o da cruz.
Portanto, conforme salientou o padre, “o sínodo é um processo de escuta mútua e dialógica que acontece sem pressa ou agendas pré-definidas. Ele relembrou que a sinodalidade é praticada em três níveis: nas igrejas particulares, nas províncias e conferências episcopais, e na Igreja universal”.
A Igreja como uma tenda: flexível e acolhedora
O padre lembrou que a DGAE usa metáfora da “tenda” (João 1,14) para descrever o espírito da ação evangelizadora. A Igreja é vista como uma tenda móvel e flexível, que está em peregrinação e busca ampliar sua capacidade de escuta, acolhida e ação evangelizadora. Essa tenda deve ser um refúgio para os “estrangeiros, expatriados e miseráveis”, disse Jean Paul. Para cumprir sua missão, a Igreja precisa discernir os “sinais dos tempos” à luz do Evangelho.
O discernimento pastoral e as conversões necessárias
Jean Paul recordou que o Sínodo (2021-2024) enfatiza a necessidade de um discernimento pastoral que promova mudanças nas estruturas, métodos e processos eclesiais. Esse discernimento se baseia em três palavras-chave: comunhão, participação e missão. O Sínodo propõe três conversões essenciais: das relações, dos processos e dos vínculos.
A missão da Igreja, segundo as DGAE, envolve a participação de diversos grupos, como leigos, crianças, jovens, mulheres, famílias, pessoas com deficiência, migrantes, religiosos e ministros ordenados. Os caminhos para essa missão incluem a Iniciação à Vida Cristã (IVC), a formação de comunidades de discípulos missionários, a liturgia e o cuidado com a criação.
Ações para manifestar a convergência
Para que as convergências entre o Sínodo e as DGAE se tornem realidade nas pastorais, o padre apontou a necessidade de: Promover processos em vez de eventos, com etapas “antes, durante e depois”; Garantir o protagonismo do Espírito por meio do diálogo e da escuta; Valorizar a participação de todos, especialmente os que estão à margem; Tornar obrigatória a existência de organismos de comunhão e participação em todos os níveis eclesiais; Favorecer acesso à funções de responsabilidade a leigos, leigas e consagrados; Buscar o discernimento em vez de simples votações; Promover uma renovação sinodal e missionária nas paróquias.
Ao final o padre Jean Paul anunciou que haverá uma formação online sobre a “Fase de Implementação do Sínodo” no dia 25 de agosto de 2025, das 20h às 21h30.
Matéria: Osnilda Lima | Fotos: João Vitório Martins | Ascom 57ª ARP CNBB Sul 4