O Grupo de Trabalho do projeto “Padres para a Igreja em Santa Catarina”, do Regional Sul 4 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tornou pública a identidade visual que acompanhará a iniciativa vocacional. Com o lema “Ele é a nossa esperança” (1Tm 1,1), o projeto será intensamente vivido a partir do Mês Vocacional de 2025, em sintonia com o Ano Jubilar convocado pelo Papa Francisco. A nova identidade visual busca expressar, de forma simbólica e acessível, a proposta de evangelização, comunhão e missão confiada ao ministério presbiteral no contexto catarinense.
Inspirada na Estrela de Belém e construída com elementos que remetem ao chamado, à missão e à espiritualidade do presbítero, a logomarca une profundidade teológica e clareza visual. Estrela, arco, fagulhas e tipografia desenhada à mão compõem o conjunto simbólico que comunica o dinamismo da vocação, a força do Espírito e o enraizamento na tradição da fé cristã. Cada detalhe do símbolo foi pensado para dialogar com todas as gerações e refletir a missão de ser sinal de esperança para o povo de Deus em Santa Catarina.
A IDENTIDADE VISUAL
“E se o tema fosse a Estrela de Belém?”. Foi assim que tudo começou: com uma pergunta simples e uma intuição despretensiosa. Como Abraão foi convidado por Deus a elevar os olhos e contar as estrelas para revigorar o dom da esperança (Gn 15,5), assim nasceu a inspiração da identidade visual do projeto.
No coração da tradição cristã, a estrela ocupa um lugar de honra. Não é apenas um adorno do céu, mas um sinal dos tempos, um ponto de orientação para quem caminha na escuridão, um convite ao movimento. A Estrela de Belém guia, porém desinstala, provoca, chama para fora. Ela inaugura uma nova geografia: não aquela dos mapas, mas a do coração que se põe a caminho. É símbolo de descoberta, de travessia, de revelação. E por isso mesmo, ela se oferece como linguagem universal: há um fascínio pelas estrelas.
Existe um mistério que envolve as estrelas. Elas são antigas, silenciosas, inalcançáveis, porém paradoxalmente, nos falam. Quem nunca se perdeu em pensamentos ao contemplar uma noite estrelada? Quem nunca sentiu o coração inquieto diante da vastidão do céu? A estrela desperta em nós algo que não sabemos nomear, mas que intuímos como verdadeiro: que não somos apenas o que vemos; existe algo para além de nós mesmos que nos chama a uma vida com sentido.
Cristo é essa estrela. Não como um astro distante, frio e fixo, mas como a Luz viva que vem ao nosso encontro. A estrela dourada que inspira este projeto representa o próprio Cristo, Luz que não se impõe, mas que guia; que não cega, mas revela. Ele é a esperança que se fez visível, o Deus que decidiu tocar a terra, descer ao nosso tempo, caminhar conosco.
Essa luz não permanece no alto, isolada no firmamento. Ela desce. Ela se encarna. Ela espalha seu clarão. A estrela que apareceu no céu de Belém não parou ali. Ela continua a brilhar nos corações que se deixam guiar, nos pés que aceitam caminhar, nos olhos que aprendem a reconhecer os sinais de Deus na vida. Por isso, ela é símbolo perfeito para a vocação: porque quem é chamado, também é enviado. Porque toda luz recebida é, cedo ou tarde, uma luz compartilhada.
Na Sagrada Escritura, diversas passagens fazem referência às estrelas como sinais divinos. Em Mt 2,9-10, a estrela guia os Magos até Jesus, gerando neles uma alegria radiante. Em Nm 24,17, a imagem da estrela remete à esperança messiânica: “Uma estrela sai de Jacó, um cetro se levanta de Israel“. E, em Ap 22,16, Cristo é apresentado como “a estrela radiosa da manhã“.
Outra imagem significativa incorporada ao projeto é o arco, que simboliza o céu que se curva sobre a história humana. O arco também evoca a transcendência presente na arquitetura de tantas igrejas, remetendo às portas e pórticos que acolhem aqueles que entram. Essa dimensão simbólica se conecta com o chamado e o envio, aspectos essenciais do ministério presbiteral. Na Sagrada Escritura, encontramos passagens que reforçam essa relação, como em Jo 10,9: “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo” e em Ap 3,20: “Eis que estou à porta e bato“.
No desenvolvimento visual do projeto, a estrela central se desdobra em fagulhas brancas que representam as arquidioceses e dioceses de Santa Catarina. Cada raio se torna um caminho, expressando que a luz de Cristo não é estática, mas se expande em missão. As línguas de fogo fazem memória de Pentecostes, quando os apóstolos, antes medrosos, foram revestidos de coragem. O mesmo acontece hoje. O sacerdócio nasce do fogo do Espírito. Sem Ele, a missão esfria; com Ele, a missão incendeia. O fogo que sai também volta, porque o ministério é circular: vai à missão, retorna à intimidade. Como chama viva, o padre está sempre em movimento: ora levando o povo a Deus, ora trazendo Deus ao povo.
Essa simbologia está em sintonia com a dinâmica vocacional: o chamado de Deus não é um fenômeno isolado, mas uma resposta que se concretiza na missão. Em Mc 3,13-19, Jesus chama aqueles que deseja para estar com Ele e, ao mesmo tempo, os envia em missão. Essa experiência é sustentada pelo Espírito Santo, cuja presença é discreta, mas essencial na caminhada presbiteral. Em At 2,3-4, o fogo do Espírito Santo pousa sobre os apóstolos, concedendo-lhes força e coragem para anunciar a Boa Nova. Esse fogo também se manifesta em Ex 3,2, quando Deus se revela a Moisés na sarça ardente, chamando-o para libertar o seu povo.
Por fim, a composição estética do projeto busca unir profundidade simbólica e simplicidade visual. Para aqueles que já fazem parte do contexto vocacional, cada elemento carrega significados múltiplos e interligados. Para quem entra em contato com a identidade visual pela primeira vez, a imagem deve ser acessível, bela e inspiradora, refletindo o Cristo que oferece a todos o chamado ao seu seguimento.
A tipografia
O processo de escolha da tipografia para o projeto começou com a análise de diversas opções, sempre com a intenção de encontrar a melhor forma de capturar a essência da vocação presbiteral de uma maneira visualmente impactante. A ideia de desenhar a tipografia manualmente surgiu como uma possibilidade interessante. Esse toque manual traria uma exclusividade e um caráter único à identidade visual, destacando ainda mais o projeto. A analogia foi rapidamente feita: assim como cada vocação é única e irrepetível, cada letra desenhada à mão seria um reflexo dessa singularidade. A tipografia, portanto, não seria apenas um elemento gráfico, mas uma expressão do chamado pessoal que caracteriza cada um dos vocacionados.
Além disso, a tipografia desenhada à mão também remete ao caminho sinodal da Igreja, no qual todos os fiéis são convidados a seguir um mesmo propósito, mas com a riqueza da pluralidade de vocações, cada uma com sua particularidade e beleza.
O nome do projeto é posicionado de forma a enfatizar sua essência, com a palavra “projeto” destacada para transmitir a ideia de missão e transformação, enquanto o nome “para Igreja” está alinhado ao topo, centrado e com uma tipografia que evoca equilíbrio e serenidade. A palavra de Deus é o fundamento do projeto e, por isso, encontra-se na parte inferior do logo.
As cores
As cores escolhidas para a identidade visual são o dourado, o azul e o branco, pensadas não apenas por sua beleza, mas também por sua simbologia.
O azul não é apenas a cor do céu que evoca transcendência, a grandiosidade de Deus e o Reino dos Céus, mas também carrega um simbolismo acessível e cotidiano. Ao mesmo tempo que é uma cor sublime, presente na liturgia e na iconografia cristã, o azul também é próximo e familiar, como a tonalidade de uma calça jeans, simples e conectada ao mundo dos jovens. Essa dualidade torna o azul um elo entre o sagrado e o cotidiano.
O dourado, por sua vez, foi escolhido como materialização da luz e da glória divina. Essa cor evoca a presença de Deus e a esperança que emana do seu Reino. O dourado é uma cor que irradia poder e majestade, mas também traz uma sensação de acolhimento e calor.
O branco, cor associada à santidade e ao Espírito Santo, completa o conjunto. O branco é a cor da santidade e da pureza, elementos fundamentais da fé cristã.
Em conjunto, essas cores são carregadas de significado e comunicam de forma visual a mensagem central do projeto: a união do divino com o humano, a luz que guia os vocacionados e a esperança que nasce da fé em Cristo.
O caminho
“Precisamos de algo que una o clero e, ao mesmo tempo, atraia os jovens.” O desafio era imenso. Como criar algo que fosse, ao mesmo tempo, profundamente eclesial e contemporâneo? Que unisse o coração do presbitério à busca inquieta dos jovens? Que revelasse a beleza da vocação sacerdotal sem deixar de falar a linguagem das novas gerações?
O caminho começou com um desejo: queríamos algo que dialogasse com todas as gerações, com os diferentes sotaques do Estado de Santa Catarina, com os gostos e sensibilidades de cada realidade.
A primeira grande inspiração veio do trabalho da designer Paula Scher, e sua capacidade de narrar histórias por meio de símbolos. Depois, a leveza e a sofisticação do logotipo da Diptyque Paris se mostraram interessantes. Pensamos então: e se o nosso símbolo fosse também uma espécie de “identidade visual aberta”? Um símbolo capaz de se adaptar a diferentes superfícies, contextos e interpretações, mas mantendo sua essência inconfundível?
O impacto visual do Atlantic Theater, com sua ousadia tipográfica, e os pôsteres vibrantes de “Bring in ‘Da Noise, Bring in ‘Da Funk”, também nos provocaram: como brincar com formas e letras sem perder o sentido espiritual?
A cruz estilizada da casula de Jean-Charles de Castelbajac, feita para a reabertura da Catedral de Notre-Dame, em Paris, tocou nosso coração. A cruz no centro, como o grande eixo da fé cristã, cercada de fagulhas, evocando Pentecostes, missão, movimento, vida.
Olhamos ainda para os novos logos de marcas antigas. Como elas conseguiram se renovar sem modificar o que era essencial? Pensamos: “e se pudéssemos fazer o mesmo com a imagem da vocação sacerdotal?”
A reforma na comunicação do Vaticano, iniciada em 2014 sob orientação do Papa Francisco, também nos inspirou. Ela nos mostrou que a linguagem da fé precisa ser encarnada na cultura da escuta e do encontro. É assim que o Evangelho se torna próximo: quando falamos ao coração, com beleza, leveza e verdade.
Mais do que um logotipo, nossa identidade visual precisava carregar valores: coragem, entrega, humildade, santidade. Queríamos que ela fosse jovem sem ser superficial, curiosa sem ser dispersa, profunda sem ser pesada. Que transmitisse esperança, abertura e frescor.
Queríamos um símbolo que pudesse ser estampado com orgulho numa casula e, ao mesmo tempo, fosse desejado por adolescentes e jovens numa camiseta.
Texto: Pe. Alexandre Amorim; Pe. Dr. Rafael Aléx Lima da Silva; Alisson Garcia Elias; Diagramadora: Ma. Jonara Machado de Oliveira



