Durante a Pré-COP30 Sul, realizada entre os dias 18 e 20 de julho de 2025, em Governador Celso Ramos (SC), 120 representantes de dioceses, pastorais, movimentos populares e entidades da macrorregião Sul assinaram uma carta-compromisso com propostas para o enfrentamento da emergência climática. O documento, resultado de reflexões coletivas e partilhas entre os participantes, busca articular ações concretas nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

A carta parte do reconhecimento de que a região é severamente impactada pelas mudanças climáticas, com destaque para as enchentes que atingiram 95% do território gaúcho. Apesar dos limites de atuação junto à COP30, os participantes assumem o compromisso de fortalecer ações locais em defesa da Casa Comum.

Entre os temas abordados estão:

Preservação dos biomas e defesa dos defensores ambientais
A carta denuncia os impactos sofridos pelos biomas da Mata Atlântica e do Pampa devido à mineração, desmatamento, monoculturas e expansão urbana. Os signatários defendem o aprofundamento do conhecimento sobre os biomas, a adesão do Brasil ao Acordo de Escazú e a criação de um “Sistema Único de Saúde Ambiental (SUSA)”.

Crise hídrica e saneamento básico
O documento alerta para a poluição dos rios da região, como o Iguaçu (PR) e rios de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, destacando a elevada presença de agrotóxicos. Aponta que mais da metade da população regional não tem acesso à coleta de esgoto. Como resposta, propõe maior atuação em conselhos e comitês de bacias hidrográficas.

Conversão ecológica
A carta reafirma o papel da Igreja Católica na promoção da ecologia integral e propõe formações nas comunidades para superar o antropocentrismo e valorizar a natureza como sujeito de direitos. Também propõe o incentivo à agroecologia, agricultura familiar e estilos de vida baseados na simplicidade.

Crítica ao sistema político e defesa das políticas públicas
Os participantes denunciam o uso de emendas parlamentares como instrumento de barganha política, o que enfraquece as políticas públicas e a democracia. Reivindicam maior participação social nos conselhos e rejeitam projetos de lei que enfraquecem a legislação ambiental, como o PL 2159/2021.

Direitos dos povos e comunidades tradicionais
O documento destaca que apenas 0,7% da área dos três estados da região é ocupada por terras indígenas. Reivindica a demarcação desses territórios e o reconhecimento de comunidades quilombolas, pesqueiras e camponesas. Cita como exemplo a situação dos Avá Guarani no Paraná e repudia legislações que retiram direitos constitucionais.

Solidariedade permanente e organização popular
Os signatários propõem transformar a solidariedade emergencial diante de tragédias climáticas em processos contínuos de organização e mobilização popular, fortalecendo o protagonismo das populações atingidas.

Articulação e comunicação
A carta propõe o fortalecimento da Rede Platina como espaço de articulação regional e a criação de um observatório macrorregional do clima. Também sugere o investimento em comunicação e cultura para enfrentar o negacionismo climático.

O documento encerra com a reafirmação do compromisso com a justiça climática, com base na inspiração do Papa Francisco e nas contribuições das Igrejas do Sul Global para a COP30. Conforme consta na carta:

“Permanentes são as consequências dos eventos climáticos. Desafia-nos, principalmente, impulsionar processos organizativos das populações impactadas pelos eventos climáticos, para que sejam protagonistas na defesa de seus direitos”.

A carta foi assinada no dia 20 de julho de 2025, ao final do encontro.

Clic aqui e baixe a carta na integra.

Matéria e Foto: Jaison Alves da Silva