Com as recentes catástrofes climáticas, cada vez mais frequentes e intensas, ouvimos constantemente a frase: “Precisamos nos adaptar.” Dizem que temos dinheiro, conhecimento, ciência e tecnologia para nos adaptar.
Para enfrentar o calor insuportável, recorremos ao ar-condicionado em todos os lugares: em cada sala, quarto, carro, restaurante, hotel, e até em sítios e fazendas. Contudo, o uso desenfreado desses aparelhos aumenta a crise climática, prejudica a camada de ozônio e demanda maior produção de energia, seja por meio de hidrelétricas, painéis solares ou parques eólicos.
Para lidar com as enchentes, a solução proposta é deslocar cidades e bairros para áreas mais elevadas, sem cessar a destruição das matas ciliares, encostas, nascentes, córregos e rios. Continuamos drenando pântanos e banhados para expandir a agricultura, criar novos loteamentos e construir condomínios. Para manter ou aumentar a produção de proteína animal (frangos, suínos e bovinos) — que gera elevados níveis de gases poluentes —, usamos o discurso de que o agronegócio e a exportação de commodities não podem parar, pois, caso contrário, a economia quebraria, a pobreza aumentaria, a fome se alastraria e o desemprego seria massivo.
Quando as águas superficiais se esgotam, recorremos aos aquíferos profundos para irrigação, abastecimento industrial e outros fins, mas não podemos parar. A destruição do meio ambiente é frequentemente ignorada, sendo tachada como discurso de “retrógrados”, “esquerdistas” e “ideologias ultrapassadas”.
Mesmo com o acelerado degelo e as mudanças drásticas nos ciclos de chuvas, preferimos recorrer a novenas e orações, pedindo que Deus resolva a situação, mas nós mesmos não mudamos. Continuamos a acreditar que basta se adaptar. Se o nível dos oceanos ameaça, mudamos para longe das praias. Se os “rios voadores” da Amazônia secam devido à destruição das florestas, acreditamos que são apenas fantasias de defensores da natureza ou ONGs internacionais.
A vida no planeta Terra, nossa vida e todas as formas de vida precisam muito mais do que simples adaptações. Precisamos de mudanças profundas e urgentes, antes que tudo se torne irreversível.
Em vez de buscar apenas adaptações, é necessário reverter o que já destruímos e degradamos. Precisamos mudar nossa cultura, que hoje é uma cultura de morte, para uma cultura em que a vida seja a prioridade. A vida é uma grande rede, onde, se um elo se rompe, toda a rede de vida corre riscos irreparáveis.
Há milênios, quando o povo hebreu entrou na Terra Prometida, tão fértil que se dizia “uma terra onde corre leite e mel”, Deus, por meio de Moisés e Josué, disse (Deuteronômio 30):
“Olha, coloco hoje diante de ti a vida e o bem, a morte e o mal… Tomo hoje o céu e a terra por testemunhas contra ti: ponho diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas tu e tua descendência, amando o Senhor, teu Deus, obedecendo à sua voz e permanecendo unido a Ele.”
Adaptar-se não é a solução e não resolverá. Precisamos de mudança, correção e reversão. Se ainda haverá futuras gerações, dependerá do que a humanidade, como coletivo, e cada pessoa, como indivíduo, decidir. Apenas se adaptar é o pior caminho, é o caminho para a morte e o fim. Somos chamados a ter vida em abundância.
Por dom Guilherme Antônio Werlang, msf | Bispo da diocese de Lages (SC)