O Rosário, oração mariana profundamente enraizada na vida da Igreja, ocupa lugar central no magistério contemporâneo. João Paulo II, Bento XVI e Francisco, cada um a seu modo, enfatizam que esta prática não é mera repetição, mas um caminho de contemplação cristocêntrica, de fortalecimento da família, de intercessão pela paz e de impulso missionário.
Segundo João Paulo II, o Rosário, embora caracterizado por sua fisionomia mariana, é uma oração centrada na cristologia. Para Bento XVI, trata-se de uma oração do coração, que nos leva à contemplação de Jesus Cristo com Maria. Já Francisco recorda que o Rosário é a oração dos simples e dos santos… é a oração que leva ao coração do Evangelho”. O lema papal Totus Tuus sintetizava a consagração mariana de João Paulo II, inspirada por São Luís Maria Grignion de Montfort. Em sua vida, o Rosário foi fonte diária de luz e força: “O Rosário acompanhou-me nos momentos de alegria e de provação. A ele confiei tantas preocupações; nele sempre encontrei conforto” (João Paulo II, Rosarium Virginis Mariae, n. 2). Em 2002, no mesmo documento citado, João Paulo II instituiu os Mistérios Luminosos para enriquecer o itinerário contemplativo. Justificou dizendo que quem contempla Cristo com Maria, penetra mais profundamente no mistério de sua vida. Ele apresentava o Rosário como compêndio do Evangelho, capaz de conduzir o fiel a “assimilar o mistério de Cristo com Maria”. Para ele, rezar o Rosário era um ato missionário e pastoral: sustentava as famílias e promovia a paz. Três urgências moviam sua promoção dolos Rosário: recolocar Cristo no centro da vida diária em razão da secularização do mundo atual, promover valores familiares, pois a família que reza unida permanece unida e rezar pela paz, reconciliação e superação da violência.
Bento XVI herdou e aprofundou a renovação de João Paulo II. Para ele, o Rosário é inseparável da Palavra de Deus: “Cada mistério do Rosário, se rezado com atenção, é como abrir uma janela para a vida de Jesus” (Bento XVI, Angelus, 7 out. 2007). Enfatizou que a repetição das Ave-Marias não é vazia; é um respirar com Maria para permanecer unidos a Jesus. No mundo saturado de informações, o Rosário cria um espaço de silêncio interior que favorece o encontro com Deus. Bento XVI recomendava que a oração fosse feita com pausas, leitura da Escritura e contemplação. Afirmava que no Rosário aprendemos de Maria a olhar para Cristo com amor, para assimilá-lo em nossa vida.
Francisco valorizava o Rosário como expressão da piedade popular: “O Rosário é a oração dos pobres e dos ricos, dos sábios e dos simples… é a oração que constrói comunidade” (Francisco, Carta ao Povo de Deus, 29 set. 2018). Ele via nessa prática um vínculo com as raízes da fé e uma porta aberta para todos. Em várias ocasiões, pediu que os fiéis rezassem o Rosário por intenções concretas, como a paz na Síria, a unidade da Igreja e o fim da pandemia. Em 2018, afirmou que o Rosário é uma arma contra o mal, contra as tentações e contra a tristeza”. Francisco rezava o Rosário diariamente, inspirado por São João Paulo II, e lembrava que “Maria nos leva pela mão ao coração de seu Filho” (Homilia, 1º maio 2013).
É possível apontar as convergências e especificidades nos três Papas. João Paulo II foi renovador e promotor fervoroso; instituiu os Mistérios Luminosos e convocou o Ano do Rosário. Bento XVI: mestre da contemplação e do silêncio, com ênfase bíblica e cristocêntrica e Francisco foi um pastor próximo, que valorizou a simplicidade popular e a força missionária. Todos veem o Rosário como oração centrada em Cristo, conduzida por Maria, com poder transformador para a vida pessoal e social.
O Rosário permanece como oração privilegiada para contemplar Cristo, aprender com Maria e viver a missão da Igreja. Como recorda João Paulo II: “O Rosário marca o ritmo da vida humana, trazendo a paz de Cristo aos corações” (João Paulo II, Rosarium Virginis Mariae, n. 43). Bento XVI assegura que “no Rosário encontramos um meio seguro para crescer no amor de Deus” (Bento XVI, Angelus, 16 out. 2011). Francisco completa: “Não deixemos o Rosário… é a oração que nos sustenta na luta de cada dia” (Audiência Geral, 7 out. 2020).
O Papa Leão XIV, no dia 1º de outubro, falou aos peregrinos de língua portuguesa: “Rezando o terço, vamos nos aproximar ainda mais de Nossa Senhora. Ela nos leva sempre ao seu Filho Jesus, que nos dá de novo o seu Espírito e nos recria, fazendo de nós missionários de paz e misericórdia”.
Por dom Francisco Carlos Bach, arcebispo de Joinville | Foto/Arte: Arquidiocese de Joinville