Em todas as épocas a Igreja tem procurado escutar com atenção o clamor dos jovens. Neles reconhece a presença de Deus, que continua a chamar, enviar e sonhar com a humanidade. Por natureza, a juventude é inquieta, movida por grandes perguntas, sede de sentido e desejo de entrega. É justamente neste terreno fértil que a vocação pode e deve crescer.
Durante o Ano Jubilar, o Papa Francisco nos recordou: “Somos chamados a ser sinais tangíveis de esperança”. E entre os que mais necessitam dessa esperança estão os jovens que, diante de um mundo tantas vezes indiferente, sentem-se desanimados, inseguros e sem perspectivas. Dizia ainda Francisco: “É triste ver jovens sem esperança”. E apontou um caminho: aproximar-se deles, escutá-los com paciência e caminhar ao seu lado.
Hoje, o Papa Leão XIV retoma esse apelo com novo vigor. Em uma de suas mensagens afirmou: “Os jovens do nosso tempo, como os de todas as épocas, são um vulcão de vida, energia, sentimentos e ideias”. E completou: “Precisam de apoio para que essa riqueza interior não se perca, mas floresça em plenitude”. Seu convite é claro: sejamos, como Igreja, uma presença acolhedora e luminosa, que ajude cada jovem a discernir sua vocação – seja ela qual for – como resposta concreta ao amor de Deus.
Nesse sentido, o que é ser uma Igreja vocacional? É criar espaços onde cada jovem (cada expressão juvenil) possa se perguntar, com liberdade e confiança: “Senhor, que queres de mim?”. É ajudar a transformar a vida em resposta. É ensinar a escutar, esperar e decidir à luz do Evangelho. É testemunhar com alegria, que vale a pena dedicar-se a algo maior.
Vale destacar ainda que um dos espaços mais desafiadores do encontro das gerações é a família, quando há desgastes, discussões, violências verbais e físicas. É preciso respeitar as diferenças, educar um ao outro, valorizar o que é bom, escutar, etc. E quando se trata de jovens cristãos, praticar o Evangelho que ensina a quebrar o círculo vicioso da violência, desprezo, indiferença e viver o amor, o perdão, a paciência e o diálogo. Cada um tem um papel importante numa família onde Deus o colocou.
É através do diálogo e da compreensão que socializamos a riqueza de cada um, seja como indivíduo, como grupo ou como geração. Só assim criamos condições de superar o conflito e fazer com que ele não seja destrutivo, mas construtivo, aproveitando as diferenças para construir um mundo melhor, o Reinado de Deus, ensinado por Jesus Cristo: quem dele participa é “como um pai de família, que tira de seu tesouro coisas novas e velhas” (Mt 13,52).
Na Jornada da Juventude em 2013, no Rio de Janeiro, o Papa Francisco afirmou: “Esta civilização atual nos levou a excluir os dois vértices que são o nosso futuro. Os jovens devem irromper, fazer-se valer; os jovens devem sair para lutar por estes valores; e os idosos devem tomar a palavra e ensinar”. Para o Papa, o vigor dos jovens e a sabedoria dos idosos, são os grandes presentes que os mais novos e os mais idosos podem trocar entre si para o bem da humanidade.
Em nosso país, a estes conflitos que fazem parte da vida humana acrescentem-se a pobreza e miséria que, muitas vezes, trunca o sonho e os ideais da juventude. A quantidade de jovens que nem estudam nem trabalham é grande. Falta oportunidade como se diz, escondendo que a verdadeira falta é de justiça. Basta ver as prisões que estão lotadas de jovens.
Enfim, para concluir, desejo reafirmar que nossa Ação Evangelizadora contempla um olhar prioritário para os jovens através da caminhada da Pastoral Juvenil, seja em nível de Regional Sul 4, como também em nossa Arquidiocese de Chapecó.
Não deixemos que o comodismo nos paralise, nem que a descrença do mundo sufoque os apelos de Deus. A vocação é uma semente divina – e a juventude, solo fértil. Mas essa semente precisa de uma comunidade que ame, acompanhe e acredite nos jovens, para que possam florescer e brilhar com o dom que Deus lhes concedeu.
“Corações inquietos, juventude que cuida, vida que pulsa!”. Eu acredito!
Por Dom Odelir José Magri, MCCJ - Arcebispo de Chapecó | Foto: Arquivo Arquidiocese de Chapecó


