Hoje a Igreja faz memória de uma “festa religiosa cristã” que tem sua origem em textos cristãos do II século do cristianismo. É a memória da Apresentação da Bem-aventurada Virgem Maria ao Templo (de Jerusalém).

Este fato dos pais de Maria a terem apresentado ao Templo não consta nos Evangelhos canônicos, mas em textos apócrifos, como, por exemplo, no Protoevangelho de Tiago, escrito por volta do II século depois de Cristo. Este texto atribuído a Tiago narra histórias da infância de Maria e de Jesus. Vários textos apócrifos, embora tragam o nome de algum Apóstolo, não significa necessariamente que tenha realmente sido escrito pelo Apóstolo cujo nome leva, mas traz memórias contadas e construídas pelas primeiras Comunidades cristãs. Por exemplo, o Protoevangelho de Tiago narra que os pais de Maria, Joaquim e Ana, dedicaram (consagraram) sua filha a Deus ao levá-la ao Templo de Jerusalém, quando esta tinha aproximadamente 3 anos. Simbolicamente isso significava que esta filha pertencia a Deus.

A Festa da apresentação de Maria ao Templo passou a ser celebrada no Oriente por volta do século VII, ligada à dedicação de uma igreja em Jerusalém (Santa Maria Nova) em 453 e somente mais tarde passou a ser celebrada no Ocidente (a partir de Roma) no século 14.

Poderíamos ver aqui que Deus agiu por meio dos pais de Maria, para que ela, ao ser apresentada ao Templo, fosse desde a primeira infância sendo preparada para, mais tarde, já na juventude, tornar-se templo vivo da morada de Deus no ato da concepção virginal por obra do Espírito Santo.

Podemos dizer que Maria, ao doar-se e consagrar-se totalmente a Deus, sempre foi disposta a servir com total fidelidade a Deus. Isto aparece claro no: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Assim, Maria torna-se modelo e inspiração a todas as pessoas que, pelo batismo, se consagram a Deus, sempre desejando fazer a vontade de Deus e fazendo-se também morada de Deus.

Maria tornou-se “morada” – templo – de Deus porque sempre ouviu a Palavra de Deus, amou a Deus e fez a vontade de Deus. Seu Filho Jesus afirma, segundo o Evangelho de São João 14,23: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos e nele faremos nossa morada”. São Paulo, em 1Cor 6,19, também afirma que nós somos “santuários – templos – do Espírito Santo” e que Deus mora em nós.

Ao longo da minha vida sacerdotal, não muitas vezes, mas já em algumas ocasiões, fui chamado a ir para a igreja, pois lá estaria uma mãe gestante ou de recém-nascido, para abençoar e consagrar o filho a Deus. Até já aconteceu de um casal, ao sair do hospital — da maternidade — antes de irem para casa, passaram na igreja – templo – para apresentar seu filho a Deus.

A oração da Igreja hoje é: “Ao celebrar a gloriosa memória da Santíssima Virgem Maria, nós vos pedimos, Senhor, que, por sua intercessão, também nós mereçamos receber a plenitude da vossa graça”.

Por Dom Guilherme Antônio Werlang, MSF, administrador Apostólico da Diocese de Lages (SC)