No domingo da Festa da Exaltação da Santa Cruz, 14, o Papa Leão XIV participou da comemoração dos mártires e testemunhas da fé do século XXI, os chamados Novos Mártires. A celebração, na Basílica de São Paulo fora dos Muros, contou com a presença de representantes das Igrejas Ortodoxas, das Igrejas Orientais, das Comunhões cristãs e de organizações ecumênicas. Em sua homilia, o pontífice citou irmã Dorothy Stang, religiosa norte-americana assassinada em 2005, em Anapu (PA), por ajudar trabalhadores na luta pelos direitos territoriais.
Leão XIV recordou a encíclica Ut unum sint, de São João Paulo II, convencido de que o testemunho até a morte é “a comunhão mais verdadeira que possa existir com Cristo que derrama o seu Sangue”. Também citando Wojtyla, sublinhou: “onde o ódio parecia permear todos os aspectos da vida, estes audaciosos servos do Evangelho e mártires da fé demonstraram de forma evidente que «o amor é mais forte que a morte”.
A recordação dos Novos Mártires tem o olhar voltado para o Crucificado: “Com a sua cruz, Jesus revelou-nos o verdadeiro rosto de Deus, a sua infinita compaixão pela humanidade; tomou sobre si o ódio e a violência do mundo, para compartilhar o destino de todos aqueles que são humilhados e oprimidos”.
Leão então falou dos muitos irmãos e irmãs que, “ainda hoje, por causa do seu testemunho de fé em situações difíceis e contextos hostis, carrega a mesma cruz do Senhor: com Ele, são perseguidos, condenados, mortos”. São mulheres e homens, religiosos e religiosas, leigos e sacerdotes “que pagam com a vida a fidelidade ao Evangelho, o compromisso com a justiça, a luta pela liberdade religiosa onde ela ainda é violada, a solidariedade com os mais pobres”.
Esperança desarmada
Contextualizando o ano jubilar, o Papa disse que a esperança desses “corajosos testemunhos de fé” é uma esperança “cheia de imortalidade, porque o seu martírio continua a difundir o Evangelho num mundo marcado pelo ódio, pela violência e pela guerra”; “porque, apesar de terem sido mortos no corpo, ninguém poderá silenciar a sua voz ou apagar o amor que deram; porque o seu testemunho permanece como profecia da vitória do bem sobre o mal”.
A esperança dos mártires é uma “esperança desarmada”, que nunca usa as armas da força e da violência, mas abraça a força frágil e mansa do Evangelho, segundo o Papa. Entre os exemplos desses que são “audaciosos servos do Evangelho”, “um afresco do Evangelho das Bem-Aventuranças”, como disse São João Paulo II, citou irmã Dorothy Stang.
“Penso na força evangélica da Irmã Dorothy Stang, empenhada na causa dos sem-terra na Amazônia: quando aqueles que se preparavam para matá-la lhe perguntaram se estava armada, ela mostrou-lhes a Bíblia, respondendo: ‘Esta é a minha única arma’”.
Queremos recordar
“Não podemos, não queremos esquecer. Queremos recordar”, disse o Papa Leão. E essa atitude é feita na certeza de que “o sangue dos mártires é semente de novos cristãos”, ainda hoje.
“Queremos preservar a memória juntamente com os nossos irmãos e irmãs das outras Igrejas e Comunidades cristãs. Desejo, portanto, reiterar o compromisso da Igreja Católica em guardar a memória dos testemunhos da fé de todas as tradições cristãs. A Comissão para os Novos Mártires, junto ao Dicastério para as Causas dos Santos, cumpre essa tarefa, colaborando com o Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos”, garantiu Leão XIV.
Leia a homilia do Papa Leão XIV na íntegra.
Luiz Lopes Jr | Fotos: Vatican Media


