O Evangelho de São Marcos, no capítulo 6, apresenta Jesus chamando os discípulos e enviando-os em missão para repetir os gestos do próprio Cristo. Ele lhes deu o poder de expulsar os impuros e curar os doentes. Assim como Jesus, os apóstolos proclamam um anúncio que manifesta o poder de Deus. Ao seu anúncio, submetem-se as forças da violência e da escravidão.
Os espíritos impuros podem ser identificados com o egoísmo, a inveja presente no interior do ser humano, bem como o desejo de domínio. O espírito impuro estava presente em Pedro, que queria salvar Jesus com uma espada, mas não tinha entendido que era ele quem precisava ser salvo. Isso explica o fato de tê-lo negado quando as dificuldades se tornaram mais intensas. São atitudes que devem ser superadas para que se testemunhe a vida cristã.
É o mesmo espírito que atuou em Adão e Eva. Eles queriam ser mais do que Deus e dispensaram a amizade divina, escondendo-se de Deus. Essa situação se repete, de alguma forma, em toda negação de fé. Dispensar Deus está presente em todas as formas de mal ao longo da história, inclusive nos tempos atuais. Manifesta-se em atitudes de altivez e obstinação, como nos exemplos de Tomé e dos discípulos de Emaús.
A verdadeira condição de discípulo de Cristo foi encontrada pelos apóstolos após a ressurreição. Eles se tornaram capazes de dar a vida por Cristo, aprendendo a realizar a vontade de Deus, e não impor a sua própria. Ao contrário de Adão e Eva, que se esconderam de Deus, o discípulo é chamado a estar com Cristo. A primeira e fundamental lição que o apóstolo deve aprender é estar com Cristo. Só depois parte em missão.
O discípulo enviado em missão deve levar consigo apenas o cajado e sandálias. O significado do cajado é apresentado pela própria Escritura, lembrando o bastão que Moisés usou para golpear o Mar Vermelho, abrindo o caminho para a liberdade. Na vida do cristão, há sempre um Egito do qual se deve sair e um mar a ser ultrapassado, com dificuldades além de suas forças. O cajado é símbolo da cruz, pois é através dela, e só dela, que o cristão atinge a vida de ressuscitado. A cruz abre as portas do céu.
Por outro lado, o missionário não deve levar bolsa, sacola ou dinheiro. Essas coisas representam tudo que desvia do propósito que Deus quer realizar, que é a salvação do ser humano. Elas se apresentam sempre como substitutos da cruz, sendo mais atraentes e de acordo com a lógica do egoísmo humano. Mas não há outro caminho de salvação fora da cruz.
A vocação cristã é o chamado para estar com Ele e anunciar com a vida o que Ele viveu. Não há missão que não brote do despojamento que Jesus impõe aos seus discípulos. Não há salvação a não ser através da cruz. Após passar pela experiência do sacrifício de Cristo, Pedro e João são capazes de oferecer ao paralítico do templo algo muito mais valioso do que ouro e prata: o nome de Jesus.
Dom Wilson Tadeu Jönck, SCJ | Arte: Ascom da Arquidiocese de Florianópolis