Com o tema “Peregrinos da Esperança no Cuidado da Casa Comum”, mais de três mil romeiros e romeiras das dioceses do Regional Sul 4 da CNBB participaram da 26ª Romaria da Terra e das Águas de Santa Catarina. O evento ocorreu no Centro de Evangelização Angelino Rosa (CEAR), em Governador Celso Ramos (SC), na arquidiocese de Florianópolis, no domingo, 9 de junho. As atividades iniciaram às 7h com a recepção dos peregrinos. A abertura oficial foi celebrada com a Santa Missa, conduzida por Dom Wilson Tadeu Jönck, SCJ, arcebispo metropolitano de Florianópolis.
Celebração Eucarística
Em sua homilia, dom Wilson, ressaltou a coincidência do evento ocorrer durante o mês do meio ambiente (junho). E destacou a importância de nos alinharmos com forças que buscam compreender e cuidar do meio ambiente, visando recriar um ambiente semelhante ao Paraíso descrito na Bíblia. Ele enfatizou que o egoísmo humano, simbolizado pela atitude de Adão e Eva, que desfigurou o Paraíso original, e hoje, a ecologia integral, conforme o Papa Francisco, lembra que a degradação ambiental está interligada a problemas sociais e espirituais. Segundo arcebispo, devemos restaurar nosso relacionamento com Deus para, consequentemente, tratar melhor uns aos outros e o ambiente: “quando Papa Francisco insiste naquele conceito de ecologia integral não podemos só pensar no meio ambiente… temos que trabalhar todos estes setores aqui, sobretudo por relacionarmos com Deus”.

O Arcebispo falou sobre o desafio de construir um ambiente que reflita o Paraíso. Explicou que isso envolve aprender a conviver como irmãos e tratarmos nosso ambiente como uma “Casa Comum” de encontro e acolhida. Usando o evangelho do dia, disse que quem está “dentro da casa” são aqueles que ouvem e seguem Cristo, e que nosso papel é convidar todos, especialmente os que estão “fora da casa”, a se juntar nesta construção de um mundo melhor: “nós desejamos e cultivamos de que isso é possível, esta é a Esperança”. Ele reforçou a importância de não apenas focar no ambiente físico, mas também no ambiente social e espiritual, criando um lugar onde todos se sintam bem e vivam em harmonia.
Por fim, abordou as resistências que enfrentamos ao tentar seguir os ensinamentos de Cristo e do Papa Francisco. Ele mencionou que muitas vezes somos censurados até por familiares ou pela sociedade, que podem achar as propostas de mudança radicais ou inviáveis. No entanto, incentivou a comunidade a ter um “coração dócil e o Espírito aquele que renova a face da Terra”, e a estar aberta às novas direções que o Papa nos sugere. Dom Wilson destacou que, embora a mudança seja difícil, é essencial para a construção de um mundo melhor.
Ao concluir a homilia, fez referência ao Jubileu 2025: “‘Peregrinos da Esperança’. Peregrino é aquele que caminha. Esta é a bela imagem da nossa passagem por este mundo. Nós caminhamos, mas não devemos caminhar sem ter uma direção. Que nós tenhamos essa direção e, ao caminharmos, construamos uma vida humana a mais bela possível. Ao caminharmos, construamos um mundo o mais belo possível. Que ao caminhar, construamos a nossa “Casa Comum” de fato como um lugar desejável para todos, onde todos se sintam bem e onde todos vivam como irmãos de verdade”, finaliza.
Tema de estudo: o Cuidado da Casa Comum

A 26ª Romaria da Terra e das Águas teve como assessor Telmo Pedro Vieira, membro do Movimento Laudato Si em Santa Catarina. Vieira abriu sua fala com citações dos papas Bento XVI e Francisco, destacando a responsabilidade da Igreja em defender a criação e a necessidade urgente de um diálogo sobre o futuro do planeta. Citando a encíclica “Caritas in Veritate”, de Bento XVI, ele enfatizou a obrigação de proteger o homem da destruição de si mesmo e, em seguida, referiu-se ao convite de Francisco para renovar o diálogo sobre a construção do futuro do planeta, conforme a encíclica “Laudato Si”.

A ideia de ecologia integral promovida pelo Papa Francisco abrange não só a ecologia ambiental, econômica e social, mas também a ecologia cultural e da vida cotidiana. Vieira falou sobre a importância da noção de bem comum, que desempenha um papel central na ética social, e a justiça intergeracional. Ele abordou a crise climática global e os impactos específicos em Santa Catarina, ressaltando a realidade da mudança climática, que afeta de maneira desigual diferentes regiões do mundo. O derretimento de geleiras no Nepal e na Antártida, por exemplo, já traz consequências como o aumento do nível do mar.
Vieira apresentou dados sobre os impactos da crise climática, como as ondas de calor extremo, incêndios florestais devastadores e a crise hídrica global. Em Santa Catarina, 80% dos rios estão comprometidos por poluição, e apenas 27,66% da população tem acesso a rede de esgoto. Ele alertou que, sem medidas urgentes, a maioria das regiões hidrográficas do estado estarão em situação insustentável até 2027. Além disso, destacou a poluição por agrotóxicos na água e as consequências de desastres climáticos cada vez mais frequentes e intensos.
Telmo concluiu sua fala com um chamado à conversão ecológica, enfatizando a necessidade de um olhar que une a preocupação pela natureza, justiça social e paz interior. Vieira mencionou modelos de santidade que inspiram essa conversão, como São Francisco de Assis e Santa Teresa de Lisieux. Ele também propôs ações concretas para ajudar o meio ambiente, como informar-se, cobrar do poder público, consumir de forma sustentável e manter a esperança ativa.
Veira usa o verbo esperançar como mensagem final: “Esperançar, no contexto bíblico, não significa permanecer quieto e silencioso, mas sim gemer, clamar. Esperançar é construir, é não desistir, é lutar ativamente por uma nova vida em meio às dificuldades. Somente quando trabalhamos juntos e com a Criação é que as primícias da esperança podem nascer. Nós precisamos ser construtores da paz e semeadores da esperança”, finaliza.
Peregrinação com a Cruz e Via Sacra Ecológica

Durante a tarde, os romeiros participaram de uma caminhada, onde carregaram a Cruz de cedro, enquanto meditavam a Via Sacra Ecológica. Este gesto simbólico vai além do simples plantio do tronco da cruz na terra, pois em diversas ocasiões, o próprio braço da cruz brota, representando a resiliência e a força da fé. A escolha dessa árvore relembra o significado que o cedro tem na cultura cabocla, sendo um símbolo de prosperidade e estabilidade, e remete às antigas tradições incentivadas pelo monge João Maria, na região do Contestado, que via nas cruzes de cedro verde um gesto de proteção e resistência. Assim, os participantes das Romarias da Terra e das Águas continuam a manter essa tradição, plantando solenemente uma cruz de cedro verde, carregando consigo uma mensagem de esperança e renovação espiritual.
Confira o abaixo o vídeo da Celebração Eucarística e do Tema de Estudo da 26ª Romaria da Terra e das Águas.
Confira algumas fotos da Romaria.
Por Jaison Alves da Silva | Fotos: Jaison Alves da Silva, Ascom de Joinville e da Arquidiocese de Florianópolis


































