Amar é uma decisão do casal, afirmou padre Hélio Luciano, ao explicitar o tema “Família” na Assembleia Regional de Pastoral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispo do Brasil Regional Sul 4), no dia 20 de setembro, em Lages.

O padre apontou que a época é de “sentimentalismo e amor de novela”, em que os casais esperam viver relacionamentos que não existem realmente. Quando os sentimentos acabam, o casamento tende a terminar também.Os divórcios feitos em cartório simplificaram a decisão. “Diante no padre não se promete sentimentos, porque sentimento não se pode prometer”, o que ocorre é que os noivos confundem a ordem das coisas, porque são “os sentimentos acompanham as decisões e não o contrário”.

Uma das estratégias da Pastoral Familiar, e grupos afins, deve ser preparar os solteiros e os noivos para o tempo do casamento, desde cedo. “No primeiro ano da catequese é preciso mostrar a beleza de casar, na crisma é preciso ensinar a namorar”, recomendou. Para ele, os jovens perderam o verdadeiro sentido do namoro, do cuidado e do amor. Muitos antecipam-se ao casamento, indo morar juntos.

Acompanhar os noivos, como também apoiá-los nos primeiros anos de casamento é decisivo, porque no início as diferenças culturais complicam. O acompanhamento é “trabalho de formiguinha” e não pode ser trocado por eventos de massa. “Não adianta chamar o padre Fábio de Melo”, afirmou.

Ele alertou para o perigo da rotina em que o casal se vê apenas como genitor dos filhos. “Não converta o marido em ‘pai’ dos seus filhos, não converta a esposa em ‘mãe’ dos seus filhos”. Principalmente as mulheres precisam ter provas de amor.

Curar feridas

Nem todos os casais estão “dentro da lei” da Igreja, mas isso não é motivo para excluí-los, avisou o padre. Não se pode “esconder a cabeça como o avestruz e fingir que não tem nada errado”, mas também não “se deve enfiar o dedo na ferida”, o objetivo é “curar as feridas”.

Para os casais em segunda união, ele sugere que “o passo inicial pode ser verificar se o casamento anterior é válido e oferecer oportunidade para discernimento”. Em todos os casos, Hélio alertou que “quem não pode comungar não é menos santo que os outros” e que os “casos especiais devem ser resolvidos com a verdade e não com extremismos pastorais”.

A formação dos agentes de pastoral é essencial para que possam evitar que famílias se separem e vivam bem. “Não podemos improvisar, não somos uma empresa, porque nos preocupamos com cada pessoa, a empresa não, mesmo assim temos que profissionalizar o trabalho”, analisa.

Hélio acrescentou que conhecer a realidade é indispensável, para evitar o risco de “se tratar câncer com band-aid”. Uma das características mais marcantes ainda hoje, é o machismo, representado, inclusive, excesso de trabalho da mulher. “As mulheres têm dupla jornada. Trabalham em média 25 horas em casa, além das 44 horas de trabalho fora”, pontuou Hélio. Uma das possíveis soluções para casos assim, é motivar o marido a ajudar, dando-lhe razões para sentir-se útil em casa, contra a tentação à preguiça.

Oitenta e nove lideranças, entre padres, bispos e agentes de pastoral, participaram da assembleia, que ainda discutiu as metas para 2014 das três prioridades do Regional Sul 4 da CNBB, Juventude, Família e Pastorais Sociais.