Periferia, litoral, centro urbano, condomínios, campo e imigrantes. Coube aos cerca de 500 delegados das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e dos Grupos de Família e de Reflexão propor ações para estas áreas, no seu 12º Encontro Estadual, realizado em Chapecó, de 20 a 22. Em conjunto, os temas respondem aos desafios das CEBs no mundo urbano.
— Procuramos contemplar várias realidades urbanas que exigem uma resposta evangelizadora. Incluímos a realidade do campo porque a maioria de nossas cidades são “rurbanas”, o que acontece no campo impacta diretamente na cidade, como o êxodo rural, que incha as periferias —, explicou padre Reneu Zortea, coordenador regional da CEBs.
Em 11 tendas temáticas, distribuídas ao redor de Chapecó e de Nova Itaberaba, assessores ajudaram os delegados na busca de respostas. No domingo, 22, a socialização em forma de teatro, mímica e música sintetizou as discussões em cinco minutos de performance para cada uma.
O grupo que tratou sobre os imigrantes representou a exclusão e a dificuldade de integração. “Existe muito preconceito o grande desafio é vencê-lo”, apontou Giovani Saibert, de Braço do Norte, no Sul do estado. Segundo ele, o acesso à documentação, o aprendizado da língua portuguesa e oportunidade de trabalho são as principais demandas.
— Então, os espaços da Igreja deveriam promover isso em união com a sociedade civil e o Estado. Não é o caso da Igreja fazer papel do poder público, mas estar ao lado. Em alguns lugares já existem associações dos imigrantes, dos quais a Igreja é parceira —, analisou.
Na tenda sobre a periferia, os delegados ouviram que esta realidade é marcada pela precariedade e pela falta de assistência. Em alguns casos, localizadas em áreas valorizadas, os moradores são vítimas da especulação imobiliária. Mas a violência é o que mais preocupa o jovem Paulo Roberto Fortes, de São Miguel do Oeste, próximo a fronteira com a Argentina. Para ele, a Igreja deveria escolher um lado.
— Ela precisa posicionar-se, tomar partido na mídia através de alguma nota de repúdio, por exemplo, quando algum morador da periferia sofre uma agressão dos órgãos de segurança. A Igreja disse que está do lado dos pobres, agora deveria pisar no chão junto aos pobres —, apontou.
Historicamente ligadas às comunidades populares de casas baixas, as CEBs ainda não conseguem inserção nos condomínios fechados, assim como os Grupos de Família, de Reflexão e os Bíblicos. Uma alternativa pode ser encontrar um apoiador. “Podemos fazer um trabalho nos prédios se tivermos uma pessoa amiga lá dentro, que nos ajude e que comece a chamar os vizinhos para conversar sobre as CEBs”, sugeriu Maria Aldaci, de Anita Garibaldi.
O problema dos condomínios é similar aos dos centros urbanos: a dificuldade de relações pessoais entre os vizinhos, o que dificulta a formação de comunidades e de grupos. “Cada um vive dentro do seu mundo no apartamento. Do trabalho para casa, de casa para o trabalho”, explicou a irmã Ivone Azevedo Souza, que vive em Florianópolis há dois anos, mas, não conhece os vizinhos e tem dificuldade de falar até com os pais de seus alunos.
— Eu acredito que a saída é a insistência. Por mais que em alguns lugares exista resistência é preciso persistir. Talvez, no primeiro momento não se deva falar de Jesus, mas fazer uma visita gratuita e tomar um chimarrão —, sugeriu.
O impacto dos condomínios é grande quando chegam a um bairro, pois a população cresce de repente, mas as políticas públicas não acompanham, como pontuou Taíze Juliane Thielke Koppe, secretária sinodal, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil.
— Depois da construção de condomínios no meu bairro em Chapecó, o Pinheirinho, a infraestrutura continua a mesma, talvez deram uma melhorada em uma escolinha apenas —, contou.
O dentista prático aposentado Lindo Lunelli, convertido em horticultor no município de Presidente Getúlio, no Alto Vale do Itajaí, elogiou a evolução do encontro de CEBs, desde que participou da terceira edição, em Lages, porque agora há estudos mais profundos em relação à agricultura.
— Gostei demais do conteúdo da tenda, aprendi muita coisa para o meu trabalho com hortaliças. Aprendi que é importante fazer mudas das frutas e ervas e usar as nossas próprias sementes e não comprá-las —, revelou.
A estudante da última fase de Ciências da Natureza e Matemática, Kelli Buss, de Rio Fortuna, no Sul do estado, apontou que discutir com os agricultores a questão dos agrotóxicos é essencial. “O seu uso é vinculado a concessão de crédito agrícola no banco”, explicou. Para ela, a defesa da agroecologia deve ser uma bandeira das CEBs.
Os desafios das CEBs no litoral incluem a defesa das comunidades tradicionais e sua cultura, na opinião do jovem Richard Quadro Magnus, de Balneário Gaivotas, no extremo sul. “É possível sim, evangelizar no litoral, mesmo no espaço turístico. Ao mesmo tempo é preciso defender o meio ambiente”. A socialização das tendas sobre o litoral destacaram a poluição do mar como um problema e a mobilização das pessoas como resposta para ele. Atuar junto às comunidades litorâneas e acolher os turistas são outros desafios a serem observados.
Compromissos
Uma carta compromisso aprovada no final do encontro, resumiu as propostas em um conjunto de ações a serem realizadas pelas comunidades e grupos ao redor do Regional Sul 4 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (Santa Catarina), a partir de hoje.
Usando jardim como metáfora para os locais onde as CEBs estão inseridas, o texto diz que elas assumem “semear flores” de resistência na roça, de solidariedade nos centros urbanos, de convivência nos condomínios, de acolhida aos imigrantes, de esperança no litoral e de cidadania na periferia das cidades.
Enquanto comprometem-se em incentivar a produção agroecológica e o consumo sustentável a partir do campo, visam a humanização da vida e das relações na cidade. Nos condomínios, as CEBs esperam chegar através de pequenas comunidades, ao mesmo tempo em que defenderão as comunidades tradicionais e condições de vida digna aos que passam ou moram na zona litorânea.
Busca por oportunidades de trabalho e do fim do preconceito estão entre os objetivos relativos aos imigrantes. As CEBs também querem que os moradores de bairros periféricos reinventem e se reencantem pela luta por direitos.
Próximos eventos
O próximo encontro Estadual das CEBs acontecerá em Caçador no ano de 2020, ainda sem dada e local definidos. Antes disso, acontece o 14º Intereclesial, de 23 a 27 de janeiro de 2018, em Londrina, no Paraná. Para a Agência Sul 4, o arcebispo anfitrião, dom Orlando Brandes, disse que a arquidiocese está empolgada. “Estamos nos preparando há dois anos, desde quando o Intereclesial veio para Londrina. Temos uma oração há um ano, com a qual já estamos rezando, pelo 14º. Estamos com Santas Missões Populares, preparando este grande evento. E claro, temos nosso secretariado sempre em reunião”.