Boa Vista (RR), cinco horas da manhã, em frente à Polícia Federal (PF), logo se forma uma fila extensa, são venezuelanos aguardando para dar entrada à regulamentação dos documentos. Nas praças, debaixo das árvores, muitas pessoas dormem ao relento. Próximo à rodoviária, debaixo de uma pequena árvore, entre tantos imigrantes, um casal com duas crianças está sentado, como que vigilante. Diante deles uma pequena mala e o sol que começava a nascer.
Na estrada que liga à fronteira Venezuelana, com frequência é possível encontrar imigrantes sob o sol de 40 graus, percorrendo o trajeto para chegar a Boa Vista. No final da tarde o grupo que marcha rumo à capital de Roraima é maior.
Na fronteira, no posto da Polícia Federal o fluxo de pessoas é intenso. Segundo a PF, 80% são venezuelanos chegando ao Brasil. No total, o movimento migratório gira em torno de 1.200 pessoas por dia.

Há muitos voluntários que procuram amenizar o sofrimento dos imigrantes. Mas esse esforço não tem sido suficiente. Padre Jesús López Fernández, de Pacaraima, oferece cerca de 800 cafés da manhã, diariamente. Para muitas pessoas é a única refeição do dia.

A Comissão Episcopal Pastoral Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano (CEPEETH) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) realiza desde o último dia (28) em Pacaraima e Boa Vista a “Missão Fronteira Venezuela” e permanece até 4 de março de 2018 visitando as famílias nos abrigos e dialogando com representantes dos poderes públicos, Igrejas, e outras lideranças locais. A Cáritas Brasileira integra este grupo missionário, a assessora nacional, Cristina dos Anjos fala de como é impactante sentir de perto as necessidades e urgências que se apresentam: “A missão tem nos mostrado o quanto precisamos trabalhar o chamado do Papa Francisco para acolher, proteger, promover e acompanhar os imigrantes. É gritante a realidade dos venezuelanos tanto em Pacaraima como em Boa Vista. É impactante ver, por exemplo, em Boa Vista, na praça Simón Bolívar, o numero de pessoas em barracas improvisadas, sem nenhuma infraestrutura, nem mesmo banheiros químicos. E essa é uma das necessidades urgentes desse povo além de moradia, alimentação, saúde… Em Pacaraima as pessoas chegam na fronteira e não tem dinheiro nem para alimentação nem para pagar transporte para chegar até Boa Vista. A educação infantil é outra grande reivindicação. Somente entre os indígenas Warao são mais de 300 crianças sem escola. A agilização da documentação é uma outra grande necessidade. Isto possibilita que possam também trabalhar legalmente no Brasil” relata.
O objetivo da missão “Missão Fronteira Venezuela” é conhecer in locu a situação que envolve a imigração na fronteira entre o Brasil e a Venezuela, em especial verificar a ocorrência do tráfico humano e elaborar um documento de análise e proposição acerca das contribuições que a Igreja pode oferecer em termos de incidência, assistência e denúncia.
O bispo de Roraima, dom Mário Antônio, afirma: “a CEPEETH traz muita esperança tanto para a diocese de Santa Elena [cidade venezuelana] quanto para nós de Roraima no sentido de promover e integrar esses nossos irmãos e irmãs. Essa visita é um momento de unção com o óleo da alegria, da ternura e da confiança e do fortalecimento para nós”, disse o bispo.

Para a colaboradora da CEPEETH, irmã Rosita Milesi, “a visita da Comissão visa reunir informações e levar uma percepção mais clara do que se passa aqui, dos grandes desafios que há, os grandes problemas que os imigrantes enfrentam. As explorações a que são submetidos e como depois apresentar e debater a implementação de ações para fortalecer a ação da Igreja e a presença da CNBB aqui, apoiando tanto a Igreja local, como outas iniciativas contribuem para dar uma resposta de carinho de acolhida a esses migrantes, combatendo a xenofobia, a discriminação e até as medidas governamentais que são restritivas para que essas pessoas tenham uma acolhida minimamente digna. Nossa visita quer, sobretudo, olhar o tema do tráfico humano e como conseguir informações mais precisas para dar visibilidade e essa problemática”, conta a religiosa.
Reportagem: Osnilda Lima
Fotos: Felipe Larozza