No Mutirão Ecumênico Sulão VIII, realizado em Florianópolis, SC, entre sexta-feira e domingo, 30, cerca de . cerca de 200 membros de três igrejas cristãs e duas não cristãs dos estados de SP, PR, SC e RS, discutiram e indicaram ações conjuntas em defesa da cidadania e do fortalecimento do Estado democrático por uma sociedade mais justa.
Os participantes apontaram a necessidade da continuidade do movimento pela reforma política. Também sugerem a criação de espaços de discussão sobre mídia nos grupos ecumênicos para incidirem nos veículos de comunicação das Igrejas temas como maioridade penal, justiça e políticas públicas. A luta por formação para professores de ensino religioso e a criação de uma pastoral para o meio ambiente foram outros dois de mais de 20 indicativos, que constarão em uma carta aberta prevista para breve.
As questões foram levantadas em 10 oficinas temáticas realizadas na etapa “Agir”, depois que “Ver” e “Julgar”, foram apresentados por dom Leonardo Steiner, Secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, pastoral luterana Romi Márcia Bencke, Secretária-geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs e o ex-senador Pedro Simon (PMDB-RS).
O bispo católico propôs que as Igrejas sejam um “pouco mais ativas” e saiam mais à rua em defesa da pessoa humana, da dignidade da pessoa e da ética. O “momento é extraordinário” para que a Igreja dê sua contribuição do debate.
— Eu estou convicto de, que se realmente quisermos mudanças, temos que ir para a rua. A rua não é apenas lá fora. Rua significa debate, reflexão, círculos para debatermos, fazermos propostas. Isto é rua. Mas também há necessidade de irmos para a rua mesmo. Eu, sinceramente, acho que já estivemos mais na rua do que estamos agora —, analisou dom Leonardo.
Romi criticou a instrumentalização da religião pela bancada evangélica que utiliza a bíblia para “tentar passar pautas nem sempre coerentes com os direitos humanos”. Avaliou que o movimento ecumênico é “espaço excelente para fazer essa discussão por causa da pluralidade de vozes”. Também analisou que é a separação entre a Igreja e o Estado que permite à Igreja “manter sua voz profética”.
Professor Oneide Bobsin, professor titular de Ciências das Religiões na Escola Superior de Teologia, considerou que a maneira mais eficiente da Igreja defender o Reino de Deus no espaço público é falar de Deus como se ele não estivesse presente.
— É preciso aprender a traduzir a mensagem da Igreja numa linguagem pública. Na vida pública, a gente não precisa esconder a fé, mas precisa saber traduzi-la na linguagem da política e até ajudar os políticos —, ponderou.
Para ele, essa regra deve se aplicar também às outras áreas do Estado. Os juízes e promotores, por exemplo, “não aprendem sobre o Estado Laico” durante sua formação.
Simon defendeu que os políticos sejam presos, se condenados, já na segunda instância. Também avaliou que é preciso mudanças estruturais e pressão para que casos de corrupção sejam julgados e a legislação seja alterada, como aconteceu na Lei da Ficha Limpa.
— Lá no Senado, na véspera de votar, vários senadores disseram: “eu sou contra”, “nós temos que ter o amplo direito de defesa”. No dia seguinte, um mar de jovens cercou o Senado, a Câmara e o Supremo, aí não teve um que votou contra. Foi como muitos disseram: “se você aparecer no painel contra a Ficha Limpa, não precisa fazer nada, já ficou com a ficha suja perante o povo” —, contou.
Na abertura do encontro, a pastora luterana Daniela Schmid pontuou que a Cruz lembra os clamores e as dores, mas, é também o caminho dos sonhos e da esperança. Ressaltou que a oração do Pai-Nosso “não é uma barganha com Deus e sim um momento de intimidade e espiritualidade com a criação”.
O Mutirão Ecumênico foi organizado pela CNBB, CIER (Conselho de Igrejas para Estudo e Reflexão), IECLB (Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil), (IEAB – Igreja Episcopal Anglicana do Brasil) FACASC (Faculdade Católica de Santa Catarina), CADES-EST (Centro Acadêmico Doutor Ernesto Schilipper da Faculdades EST), CEBI (Centro de Estudos Bíblicos – Sul), REJU-Sul (Rede Ecumênica de Juventude-Sul), Movimento Focolares, Centro dos Direitos Humanos Maria da Graça Braz. Além das entidades organizadoras, participaram membros da Igreja Evangélica Luterana do Brasil, Candomblé e da religião judaica. O lema foi “Venha a nós o teu reino (Mateus 6,10).