O processo para a instalação do regional catarinense do Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNBL) iniciou hoje, 17, com a aprovação, pela 49a Assembleia Regional de Pastoral, órgão consultivo da CNBB Regional Sul 4 (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil em Santa Catarina), de uma comissão provisória que será formada até 17 de novembro, data prevista para sua primeira reunião.
Na proposição dos delegados leigos, a equipe terá como atribuição propor estatuto e modelo de organização. Além disso, deverá realizar pesquisa histórica do funcionamento de entidade similar que existiu no regional e propor uma agenda mínima para o ano que vem a fim de viabilizar a instalação do conselho.
O CNBL é uma associação de fiéis leigos e leigas católicos, que congrega e representa o laicato brasileiro de movimentos, pastorais e associações dos mais variados tipos. Dos dezoito regionais da CNBB, apenas o Sul 4 e Centro-Oeste não possuem representação da entidade.
Dom Severino Clasen, bispo de Caçador e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato, ao qual o CNBL é vinculado, comemorou a instalação da iniciativa. Antes ele havia motivado os leigos a se organizarem.
— Quero dizer da minha alegria por essa decisão, porque antes eu havia dito a eles (leigos): são vocês que precisam decidir. Por isso fiz questão de não estar presente na reunião de ontem (que elaborou a proposta), para não dar um ar clericalista. Fiquei muito satisfeito com o resultado, parabéns —, revelou a seguir da votação unânime.
No dia anterior, ele revelou que o desejo dos bispos é “mudar o movimento, em vez de trazer o povo para a Igreja, é fazer com aqueles poucos que vem a Igreja, vão para o mundo e levar Jesus Cristo”. Além disso, as propostas para o laicato no documento 105 da CNBB — Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade — não implicam em mudar “o caminho feito”, estrutura e atividades, mas é pensar sobre “o espírito” do que já está estabelecido.
O assessor da comissão para o laicato, Laudelino Augusto dos Santos, havia pedido aos bispos e padres, também ontem, que garantissem estímulo suficiente para que os leigos atuassem na sociedade de maneira qualificada e que ao mesmo tempo, incentivassem a permanência deles nas comunidades da Igreja.
— O leigo não tem que só ocupar uma cadeira no conselho de direitos, tem que ter qualidade para discutir, para defender. Assim também na política, no sindicato, na empresa, como os empresários cristãos. Por favor, não segurem os leigos só no âmbito eclesial. Tem tanto cristão que não vai na câmara de vereadores porque é a hora da reunião da Igreja. Mudem a hora da reunião para que ele vá lá —, indicou o assessor.
Segundo ele, é preciso oferecer espaço eclesial para que os leigos que já atuam na sociedade, como políticos, servidores públicos, sindicalistas e militantes sociais tenham momentos de espiritualidade e de formação. “Sabem que 90% dos cristãos que participam da Igreja tem como única formação a homilia?”, perguntou retoricamente.
Testemunhos
Mais cedo, a professora aposentada Maria Inês Vitor contou sua experiência de vida como leiga que dirige uma organização sem fins lucrativos para jovens com deficiência mental, em Criciúma. Além disso, ela é membro do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e do Conselho Estadual do Idoso. “Não sou indicada pela Igreja, mas eu sou Igreja lá dentro dos conselhos”, garantiu.
Em sua opinião, as lideranças leigas precisam ter compromisso com a missão como católicos e conhecimento sobre as leis, estatutos e orçamentos. “Não é só arranjar uma cadeira. É participação, é conquistar aquele espaço e saber usar”.
Ela atribuiu a fidelidade à Igreja a formação cristã que recebeu da família e o envolvimento com a comunidade aos padres com quem conviveu. Mas foi como Secretária Municipal de Desenvolvimento Social, em 2006, que descobriu uma cidade escondida onde a “mensagem da Igreja não chegou”, onde pais vivem maritalmente com as filhas, pessoas dormem em amontoados de roupa e não tem nada para comer.
— A partir daquele momento, eu entendi que as oportunidades que a vida me deu eu tinha que devolver de alguma forma —, contou.
Já o vereador em Xanxerê pelo Partido dos Trabalhadores e ex-sindicalista, Adriano de Martini, disse que descobriu a missão social do leigo na escola de teologia popular da Diocese de Chapecó e em um curso oferecido pelo Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular, do qual participou por incentivo da diocese.
— Sempre tive como ponto de partida a experiência e a prática de Jesus. Ele orienta e dá o caminho para seguir: a atenção específica para aqueles que mais precisam, os trabalhadores e marginalizados. E estar a serviço. Não ter um cargo apenas pelo poder. Jesus também esteve a serviço, e nós também temos essa missão —, ponderou.
Para de Martini, que também foi militante da Pastoral da Juventude, de nada adianta o leigo estar a frente de um sindicato, de um movimento ou de uma pastoral se não trabalhar de forma coletiva. É essencial criar espaço para que “de forma muito aberta, trabalhar coletivamente. Só assim a gente vai transformar a sociedade”.
Assembleia
A Assembleia Regional de Pastoral (ARP) é um órgão consultivo do Conselho Episcopal Regional, que dirige a CNBB Regional Sul 4. São membros os bispos, os responsáveis pelas pastorais e organismos vinculados a CNBB, que atuam em Santa Catarina, coordenadores diocesanos de pastoral e outros representantes das dez dioceses.
Aa 49a ARP, em Lages, dias 16 e 17 de setembro, com o tema central “Cristãos leigos e leigas na Igreja e na sociedade”, destacou o documento 105 da CNBB, aprovado, este ano, em Aparecida, SP, pela assembleia geral dos bispos.
As dioceses montaram painéis para expor o trabalho local dos leigos e com eles e apresentaram experiências das iniciativas pastorais do laicato. Embora, estejam envolvidos em pastorais, serviços ministérios e em instâncias de decisão nas dioceses e suas paróquias, nenhuma possui espaço ou articulação própria para os leigos, similar ao CNBL.