“Como CEBs, precisamos incluir e não excluir, precisamos da ajuda, da força e da colaboração de tantas outras experiências na Igreja”, recomendou dom Odelir na homilia da missa de encerramento. Ele ponderou que o importante não é chegar primeiro, mas chegar junto. (Marcelo Luiz Zapelini/Agência Sul 4)

No 12 º Encontro Estadual de CEBs, Grupos de Reflexão e Família de Santa Catarina, o prefixo “re” esteve presente em quase todas as falas de bispos e da assessoria. Esse prefixo, de origem latina, pode ter três sentidos, de repetição, como em “recapear”, retrocesso e recuo, como em “reiniciar” ou ainda de reforço, a exemplo de “rejubilar”.

Estes dois últimos sentidos foram muito importantes neste encontro, na paróquia São Cristóvão, em Chapecó. As CEBs, foram convidadas, em vários momentos a retomar, reencantar, revigorar, reanimar a sua caminhada. Os tempos de hoje são outros, avisaram os oradores.

Sem repetir ou recuar ao passado. A palavra de ordem é renovar e reconciliar. Para o assessor geral Celso Carias, coordenador nacional das CEBs, que é teólogo por formação, as CEBs precisam “ter a capacidade de desapegar de muitas coisas do passado. Das formas como a gente fazia, até de como as CEBs faziam e fazem ainda”. “O mundo é outro, não dá para buscar receitas do passado e trazer para o presente”, acrescentou.

Dom Odelir José Magri, dia 22, na missa que encerrou o encontro, foi no mesmo sentido. “Acho que precisamos, nessa dinâmica de uma boa dose de humildade, de saber olhar o caminho feito, e tirarmos lições daquilo que foi bom, daquilo que foi positivo, onde falhamos”. Para o bispo anfitrião do encontro, sem isso “nós arriscamos a repetir os mesmos erros”.

Um erro apontado por dom Severino Clasen, de Caçador, na homilia compartilhada com dom Magri, aconteceu quando as CEBs, ficaram suscetíveis às ideologias. Uma dessas ideologias, disse, “que muitos achavam a melhor, porque não teve sua consistência está sendo engolida”. Ele sugeriu que a espiritualidade seja bem definida a partir da leitura da Palavra de Deus, que garante “uma eclesiologia, definida, libertadora, oportuna e necessária”.

Pouco antes, dom Magri, também havia feito uma sugestão para que as CEBs avancem. “Precisamos nos colocar de joelhos, para invocar essa luz de Deus, essa força de Deus, para que nos ajude a responder aos desafios”.

Ambos os bispos sustentaram que as CEBs se inspirar na Santíssima Trindade, ou Deus Trindade. Para dom Severino, pela graça do batismo “somos consequência e a continuidade da comunidade trinitária. O que para dom Magri, nas CEBs, significa trabalhar juntos.

— Precisamos da força, da ajuda, da colaboração de tantas outras experiências da vida da Igreja. Deus Trindade nos mostra que na diferença é possível fazer comunhão —, ponderou.

O bispo de Chapecó asseverou, neste contexto de retomada das CEBs, que “precisamos dos outros, precisamos somar forças, dar o que de bom nós temos, para chegarmos juntos”, inclusive com aqueles que não compartilham da mesma visão, pois o “objetivo não é ganhar ou chegar primeiro”.

Dom Clasen, indicou também que “juntos, e não isolados, como a unidade perfeita da santíssima trindade” é que se pode construir o “Reino da justiça, da paz, da liberdade e da felicidade”. Para além de outras expressões da Igreja, ele apontou que deve haver união entre leigos, religiosos, padres e bispos. “Sem a hierarquia não haveria a Igreja”.

— Muitas vezes somos muito clericalistas. Até na liturgia, usamos trajes do clero e não dos leigos. Até isso temos que olhar, e para isso temos algumas observações, para que assim comecemos a saber que o que é leigo é leigo, o que é clero é clero, o que é bispo é bispo —, disse ao anunciar o novo documento da Igreja para os leigos aprovado na 54ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. O texto contou com a participação dos leigos, pela primeira vez na história da organização.

CEBs devem priorizar a evangelização

Carias avisou, antes da missa, que as CEBs tem o papel de anunciar o Evangelho e ser sinal do Reino e que a Igreja que não é ONG ou partido político. “Evangelizar significa dar continuidade ao projeto de Jesus, no meio do mundo, no meio de sua complexidade”, indicou.

Antecipando o que diriam os bispos na homilia, o assessor pontuou que é preciso abrir-se para o diálogo com outros setores da comunidade. “As CEBs vão ter que ter a sensibilidade de dizer: você, você e você, podemos caminhar juntos?”. A pedagogia para fazer isso vem da fé, “é no caminho de Jesus encontramos a melhor pedagogia para enfrentar os desafios”, ensinou.

A renovação da utopia, passa por uma mudança de hábitos, como cuidar do destino dos resíduos e do consumo consciente. “Agora na hora do café, tive esse esquecimento terrível de não trazer a caneca de minha casa, peguei um copo descartável. E aí fui procurar o lixo dos descartáveis, quando cheguei ali, vi o lixo orgânico e não orgânicos misturados. Somos nós, é mudança de atitude. Mudança de estilo de vida”, indicou o teólogo.

A maneira para se propor novos hábitos e pregar o evangelho no campo, na periferia, nos condomínios, no centro urbano e aos migrantes não está dado. “Não temos ainda uma resposta, que possibilite da noite para o dia, fazer uma grande transformação”, disse Carias na segunda-feira, 20.

Ele sugeriu, porém, algumas pistas. Além dos “necessários canais de televisão”, a Igreja precisa “ir às raízes da cultura”, para que a linguagem seja compreendida. Também sugeriu que as CEBs procurem ser fiéis ao “projeto de Jesus, e fiéis àquilo que a fé interpela”, porque sem isso, não adiantam existir políticas públicas.

— Estamos em uma crise, muita gente desanimada, mas imaginemos que, a partir de um determinado momento da nossa forma coletiva, da nossa espiritualidade, da nossa fé a gente olhe para esse cenário e diga “voltemos à propor o caminho de jesus dentro desse novo contexto”.

Para Carias, “aí as CEBs podem ser, de novo, profeticamente, retomadas, reencantadas, para ser sinal do Reino neste novo contexto”.

Reencantar, aliás, está duas vezes na carta compromisso, aprovada no encontro. “É o povo catarinense, plural e diverso, mosaico encantador e reencantador da caminhada do Povo Santo de Deus” e na periferia, corações e pés estão juntos “para reinventar e reencantar” ao “semear flores” na periferia.

Neste tempo em renovação é a linha guia das CEBs, que em Santa Catarina, trabalham em mutirão com os Grupos Bíblicos e de Reflexão e de Família. Em sua carta compromisso, convidam a “todos a fazerem parte deste grande mutirão para semear, cuidar, regar e colher a VIDA neste imenso jardim das comunidades”, como pediram os bispos.